FILOSOFIA MEDIEVAL: Querela dos Universais (Abelardo, Champeaux,
Ockham e Roscelino)
MÓDULO 3
#PARA COMEÇAR
Questões filosóficas:
Qual é a relação entre as palavras e as coisas?
ESTUDO DA
LÓGICA
A lógica é um campo da filosofia que se preocupa com a
forma correta de raciocinar. Segundo ARISTÓTELES, ela é um instrumento da razão
para o desenvolvimento do conhecimento filosófico. A ESCOLÁSTICA vai se voltar
não só para as questões teológicas, onde ela cristianiza a filosofia
ARISTOTÉLICA, mas vai também se interessar pela lógica como instrumento que
torna os discursos corretos. Um dos grandes expoentes do estudo lógico medieval
é BOÉCIO, que inclusive aperfeiçoou o famoso quadrado lógico abaixo:
Se deve também a BOÉCIO a introdução sobre a QUESTÃO DOS
UNIVERSAIS (IDEIAS GERAIS) que marcará as discussões do período ESCOLÁSTICO. As
IDEIAS GERAIS são reais, existem independentemente das coisas, são somente
nomes arbitrários criados para diferenciar as coisas, ou são conceitos mentais,
abstraídos pelo sujeito das coisas e usado pelo indivíduo para identificar as
mesmas?
QUESTÃO DOS UNIVERSAIS
O método ESCOLÁSTICO de investigação privilegiava o
estudo da linguagem (trivium) como
pré-requisito para o estudo das coisas propriamente ditas e dadas (quadrivium). Daí surgiu a questão: Qual
é a relação entre as palavras e as coisas? A rosa é um conceito universal real,
que existe mesmo que todas as rosas se extingam, é um nome para distinguir uma
flor de outros seres, ou é um conceito mental, que existe na mente como
intermediário entre o sujeito e o mundo? Outro filósofo a quem é atribuído a
inspiração para a questão é PORFÍRIO, filósofo NEOPLATÔNICO que viveu entre
234-305 d. C. A QUESTÃO DOS UNIVERAIS, ou QUERELA DOS UNIVERSAIS, tratará sobre
e a existência ou não das IDEIAS OU CONCEITOS GERAIS de forma autônoma,
independente das coisas.
REALISMO EXAGERADO
O REALISMO EXAGERADO defende que os UNIVERSAIS existem de
fato, as IDEIAS GERAIS ocorrem independentemente das próprias coisas, são entes
reais com estatuto ontológico. Segundo SANTO ANSELMO (1035-1109), as IDEIAS
UNIVERSAIS existem na mente de DEUS, e mesmo que as coisas um dia cheguem a seu
ocaso, continuarão a existir na mente do CRIADOR. Já segundo GUILHERME DE
CHAMPEAUX (1070-1121) a relação entre as palavras e as coisas é tão íntima que
se pode dizer que a palavra, o conceito, o UNIVERSAL é a própria coisa e quanto
mais UNIVERSAL, mais perfeito e adequado é a IDEIA GERAL. Por exemplo: o
substantivo BRANCURA é mais perfeito do que qualquer coisa BRANCA, qualquer
adjetivo BRANCO. O UNIVERSAL BRANCURA é mais perfeito que qualquer objeto
BRANCO existente.
REALISMO MODERADO
Foi a tese de TOMÁS DE AQUINO: OS UNIVERSAIS existem
antes das coisas na mente de DEUS, nas coisas como forma das mesmas e depois
das coisas como conceito mental. Na verdade é uma salada de frutas entre
REALISMO EXAGERADO, PLATONISMO, ARISTÓTELES e CONCEITUALISMO.
NOMINALISMO
Para o NOMINALISMO os UNIVERSAIS, as IDEIAS GERAIS, não
passam de palavras ao vento (flatus vocis,
na expressão em latim), sem existência independente das coisas. O UNIVERSAL não
passa de um nome, uma convenção social para diferenciar as coisas e objetos.
Segundo ROSCELINO (1050-1120) não há UNIVERSALIDADE, mas apenas
INDIVIDUALIDADE. Os CONCEITOS UNIVERSAIS são arbitrárias formas de designar
indivíduos. O nome não é a coisa, mas é útil para distingui-la. Para OCKHAM
(1280-1349), os UNVERSAIS são NOMES úteis, ficções práticas, que nos permitem
uma compreensão da realidade, mas que não nos dão a certeza do que o real é
realmente, de fato. Para os OCKHAMISTAS, a razão não deveria ser serva da
TEOLOGIA como foi durante todo o período medieval. A TEOLOGIA sequer poderia
ser ciência, pois suas proposições não possuem coerência racional, mas são
artigos de fé. GUILHERME DE OCKHAM é um precursor do EMPIRISMO (o conhecimento
vem dos sentidos) e um NOMINALISTA intransigente. Seu conceito de NAVALHA (a
famosa NAVALHA DE OCKHAM) foi fundamental para o desenvolvimento posterior da
filosofia rumo a novos horizontes. Segundo OCKHAM, para conhecer as coisas não
é necessário generalizá-las, pois toda generalização corrompe o saber. Para
conhecer basta nos atermos aos indivíduos e nada além dos seres individuais.
CONCEITUALISMO
Uma terceira vertente surge com PEDRO ABELARDO para
tentar resolver a QUESTÃO DOS UNIVERSAIS. Para o francês, através da abstração,
podemos abstrair das coisas individuais sua UNIVERSALIDADE, que passaria a ser
um CONCEITO MENTAL (por isso também chamado CONCEITUALISMO) existente na mente
do indivíduo cognoscente. Os UNIVERSAIS
não existem independentemente das coisas, não são realidades separadas das
coisas, mas abstrações mentais dos sujeitos. As IDEIAS GERAIS também não são
somente NOMES (como queria o NOMINALISMO), pois existem de forma generalizada
na mente humana. Portanto, segundo PEDRO ABELARDO, os UNIVERSAIS são CONCEITOS
MENTAIS (CONCEITUALISMO), abstrações intelectuais dos indivíduos a partir de
objetos individuais, fazendo com que possamos distinguir e associar as coisas.
A palavra é um CONCEITO MENTAL, uma abstração da coisa na mente humana.
#ANÁLISE E ENTENDIMENTO
Qual posição você adotaria na DISCUSSÃO DOS UNIVERSAIS?
#SUGESTÕES DE FILMES
EM NOME DE DEUS (1988, INGLATERRA/IUGOSLÁVIA, DIREÇÃO DE
CLIVE DONNER)
Filme que se passa no século XII e enfoca o romance de
ABELARDO e HELOÍSA. Retrata o clima das discussões filosóficas e mostra o
ambiente universitário na UNIVERSIDADE DE PARIS, entre 1114 e 1118, época em
que ABELARDO lecionou nessa instituição e viveu o célebre e dramático romance
com HELOÍSA.
O NOME DA ROSA (1986, ITÁLIA/FRANÇA/ALEMANHA, DIREÇÃO DE
JEAN-JACQUES ANNAUD)
Adaptação para o cinema da obra homônima do pensador
italiano UMBERTO ECO. Trata-se de uma trama ambientada no século XIII, que traz
à tona algumas da questões centrais que caracterizam a IDADE MÉDIA: a relação
entre a doutrina cristã, a filosofia e a ciência; a atitude intolerante da ala
mais ortodoxa da IGREJA diante das divergências dentro do próprio credo; a
questão das heresias; as diferenças entre as diversas orientações no seio do
cristianismo; o processo da INQUISIÇÃO.
#CONECTADO
O NOME DA ROSA PARTE 1 DE 4 (DUBLADO)
EXERCÍCIOS
QUESTÃO 1
“Os estudos ‘gramaticais’ foram particularmente
cultivados nos séculos IX-XII. Permitindo ingressar progressivamente no mundo
dos sinais linguísticos, o desenvolvimento desses estudos, que tiveram impulso
notável na escola CHARTRES, resultou em madura consciência da relação entre voces e res, que era preciso estudar e
explicitar de quando em vez. Por essa razão, João de Salisbury, discípulo de
BERNARDO DE CHARTRES, afirmava que ‘a gramática é o berço de toda filosofia’.”
REALE, GIOVANNI. HISTÓRIA DA FILOSOFIA: PATRÍSTICA
E ESCOLÁSTICA, V.2 / GIOVANNI REALE, DARIO ANTISERI ; [TRADUÇÃO IVO STORNIOLO].
– SÃO PAULO : PAULUS, 2003 PÁG. 166
Voces e res se referem a palavras e coisas
respectivamente. O texto acima faz referência aos estudos gramaticais no
medievo, que deu origem a
A) controvérsia dos universais.
B) querela idealista.
C) disputa realista.
D) questão dialética.
E) controvérsia conceitualista.
RESPOSTA: A
QUESTÃO 2
“Trata-se da posição platônica levada às extremas
consequências. Os universais seriam entes reais, subsistentes em si, IDEIAS
eternas e transcendentes que têm função de arquétipo e paradigma em relação aos
indivíduos concretos.”
REALE, GIOVANNI. HISTÓRIA DA FILOSOFIA: PATRÍSTICA
E ESCOLÁSTICA, V.2 / GIOVANNI REALE, DARIO ANTISERI ; [TRADUÇÃO IVO STORNIOLO].
– SÃO PAULO : PAULUS, 2003 PÁG. 168
O texto acima é referente à QUERELA DOS UNIVERSAIS,
discussão que teve seu auge no período medieval. Sobre a posição adotada no
texto podemos dizer que trata-se da concepção
A)
Do
realismo exagerado.
B)
Do
nominalismo.
C)
Do
conceitualismo.
D)
Do
idealismo.
E)
De
Pedro Abelardo.
RESPOSTA: A
QUESTÃO 3
“Trata-se de uma posição ceticizante que rejeita
completamente toda forma de platonismo. O universal seria simples nome que
indica uma multiplicidade de indivíduos e nada mais. Não apenas não tem um
status ontológico, mas também não tem um status lógico fundativo da palavra.”
REALE, GIOVANNI. HISTÓRIA DA FILOSOFIA: PATRÍSTICA
E ESCOLÁSTICA, V.2 / GIOVANNI REALE, DARIO ANTISERI ; [TRADUÇÃO IVO STORNIOLO].
– SÃO PAULO : PAULUS, 2003 PÁG. 169
O texto acima é referente à QUERELA DOS UNIVERSAIS,
discussão que teve seu auge no período medieval. Sobre a posição adotada no
texto podemos dizer que trata-se da concepção
A)
Do
realismo exagerado.
B)
Do
nominalismo.
C)
Do
conceitualismo.
D)
Do
idealismo.
E)
De
Pedro Abelardo
RESPOSTA: B
QUESTÃO 4
“Trata-se de uma forma de aristotelismo reelaborado
sobretudo por ABELARDO: o universal, embora não sendo um arquétipo ideal, é um
conceito significativo obtido por abstração.”
REALE, GIOVANNI. HISTÓRIA DA FILOSOFIA: PATRÍSTICA
E ESCOLÁSTICA, V.2 / GIOVANNI REALE, DARIO ANTISERI ; [TRADUÇÃO IVO STORNIOLO].
– SÃO PAULO : PAULUS, 2003 PÁG. 169
O texto acima é referente à QUERELA DOS UNIVERSAIS,
discussão que teve seu auge no período medieval. Sobre a posição adotada no
texto podemos dizer que trata-se da concepção
A)
Do
realismo exagerado.
B)
Do
nominalismo.
C)
Do
conceitualismo.
D)
Do
idealismo.
E)
Do
realismo moderado.
RESPOSTA: C
QUESTÃO 5
“Trata-se de uma posição mediana entre a concepção
platônica e a aristotélica. Os universais têm tríplice valência: 1) se
considerados como transcendentes e anteriores às coisas (na mente de DEUS)
correspondem às ideias platônicas; 2) se considerados como imanentes e
presentes nas coisas (nos corpos individuais) correspondem às formas aristotélicas;
3) se considerados como abstratos e posteriores às coisas (na mente humana)
correspondem aos conceitos lógicos.”
REALE, GIOVANNI. HISTÓRIA DA FILOSOFIA: PATRÍSTICA
E ESCOLÁSTICA, V.2 / GIOVANNI REALE, DARIO ANTISERI ; [TRADUÇÃO IVO STORNIOLO].
– SÃO PAULO : PAULUS, 2003 PÁG. 170
O texto acima é referente à QUERELA DOS UNIVERSAIS,
discussão que teve seu auge no período medieval. Sobre a posição adotada no
texto podemos dizer que trata-se da concepção
A)
Do
realismo exagerado.
B)
Do
nominalismo.
C)
Do
conceitualismo.
D)
Do
idealismo.
E)
Do
realismo moderado.
RESPOSTA: E