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sábado, 24 de abril de 2010

O teatro da vida

Vivemos representando!!! Essa frase é forte, principalmente para uma sociedade que prega o individualismo e a vivência de uma vida autêntica. Mas infelizmente é um fato. Em cada âmbito de nossa experiência mundana adotamos modelos, ou muitas vezes criamos nós mesmos os modelos dentro dos quais nos esforçamos para nos encaixar. E o que percebemos nos final das contas é que não somos aquilo que acreditávamos ser. Por quê? Porque na verdade estamos o tempo todo tentando representar papéis na novela da nossa vida. Representamos o papel de bom pai, boa mãe, bom aluno, bom professor, bom filho, boa filha, bom funcionário, bom patrão. Todas essas representações se dão de acordo com o modelo que adotamos como ideal para cada função. É aí que reside a falsidade de nossa vida. Criamos, cada um de nós, um Eu ideal, que está muito além de nosso eu real. Por inventarmos um Eu ideal, acabamos por nos tornar incapazes de conhecermos nosso eu real. Talvez nem exista nosso eu real, mas é certo também que não somos o Eu ideal que criamos. Fazemos isso porque temos dificuldades de lidar com as dificuldades e imperfeições nossas. Preferimos criar um Eu ideal a lidar com nosso eu real, que é falho, imperfeito. Idealizamos uma vida autêntica, mas nos conformamos com uma vida inautêntica. Gostamos de realidade, mas gozamos com a virtualidade. Seja você mesmo!!! Reza o bordão. Mas vivo querendo ser um outro, que não é o outro, mas aquilo que inventei como ideal para mim. Os modelos que inventamos não passam de coisas, objetos de nosso desejo, mas nunca sujeito de nosso próprio ser. Acreditamos em nossa subjetividade, mas vivemos na objetividade dos objetos desejados e criados por nós. O eu real, o eu em si, ou não existe, ou é impossível conhecê-lo, porque nos acercamos de máscaras que nos impedem de ver-nos como somos diante dos espelhos da existência. Mesmo quando ousamos tirar as máscaras que nos escondem de nós mesmos acabamos por descobrir que por detrás daquela máscara há outra, e outra, e outra e assim sucessivamente e infinitamente. Por ser um animal simbólico, o homem deixou de ser um animal real, e passou a trocar a coisa pelo símbolo, aquilo que é por aquilo que representa. E esse caminho é um caminho sem volta. Não há possibilidade de retornarmos ao real e abandonarmos o simbólico. Mesmo que nos esforcemos, estaremos simbolicamente tentando regressar ao que fomos, mas já não somos mais. Somos e não somos os personagens que adotamos. E é dessa consciência que surge a angústia humana. Angústia sem volta, sem possibilidade de ser superada. Existe uma vontade cega de representar. Independe do nosso querer. É um desejo latente e ardente que inflama nossa alma e nossa mente e nos leva a representar. É um inconsciente muito consciente de sua vontade e de seu querer, mas que não nos consulta para agir e representar. É mais forte que o Eu, seja ele ideal ou real. É cegueira que nos impede de ver os olhos por detrás das máscaras, dos personagens. É cegueira que nos impede de ver a dor, mas não nos impede de senti-la. A dor de não ser quem sou e nem ser quem quero e desejo. A dor de não ver a dor que dói no outro. Dor e sofrimento que representados ou não, reais ou irreais, dói mais em uns que em outros. Dor que leva à fé, que engana sempre. Aquilo que acreditamos não é aquilo que é, mas mesmo assim lutamos até a morte sem saber por quê. Loucura e insanidade humana. Razão desvairada de nosso existir. Eterno retorno do que não queremos saber, nem ver, nem sentir. Água potável, limpa e cristalina que não mata nossa sede. Ar que se respira mas que não enche o pulmão. Terra onde piso, pó ao qual retornarei sem saber se fui o que sou, se sou o que fui. Teatro da vida e vida teatral. Vivemos representando, representando vivemos. Será que somos bons atores na novela de nossa vida?

GREVE!!!

Os educadores da rede estadual de ensino de Minas Gerais estão em greve pela implementação do piso salarial nacional. O piso salarial é o salário mínimo do professor, que foi aprovado como lei federal. O valor do piso hoje é de R$ 1.024,00 reais e o governo de Minas paga somente R$ 935,00. Alguns setores da educação chegam a receber menos que um salário mínimo (R$ 510,00) como é o caso dos auxiliares de serviço gerais, secretaria e professores do ensino fundamental I, que ganham (pasmem!!!) R$ 336,00. O governo argumenta que o piso nacional é para uma jornada de 40 horas e Minas adota uma jornada inferior de 24 horas, por isso o valor é menor que o piso e o salário é proporcional à jornada. Mas a lei federal diz que o piso é o salário mínimo do professor, ou seja, nenhum trabalhador em educação pode receber menos que o mínimo, não importa qual seja a jornada. Além do mais a lei diz que o valor a ser pago (o mínimo, o piso) é para uma jornada de até 40 horas e não especificamente ou obrigatoriamente de 40 horas. No estado de São Paulo um professor recebe R$ 1.600,00 pela mesma jornada de 24 horas, quase o dobro do salário mineiro. Todos sabemos que São Paulo é o estado mais rico do Brasil e por isso, teoricamente, paga o "melhor salário do país". Minas é o segundo estado mais rico do Brasil e o que possui a maior carga tributária, logo, os servidores públicos mineiros deveriam receber a segunda melhor remuneração do país, o que não acontece. Temos o 8o pior salário do Brasil, perdendo em remuneração inclusive para estados mais pobres como Mato Grosso. A implementação do piso salarial nacional da educação se deu para transformar a realidade de educadores de regiões pobres do país, onde professores recebiam menos que o mínimo. O piso foi criado para que nenhum educador recebesse menos que o valor referendado em lei. Mas em Minas o piso se tornou teto e nenhum educador recebe mais do que R$ 935,00. O piso, quando da sua implementação, foi estipulado em R$ 950,00 reais. Hoje está em torno de R$ 1.024,00 segundo o ministério da educação. Mas esse aumento está aquém da inflação do período que decorreu desde sua fixação. Sem contar que está defasado em relação ao mínimo que tem seguidas vezes subido acima da inflação. Estados mais ricos têm também um custo de vida mais alto, o que justifica um mínimo acima do piso, como é o caso de São Paulo. Mas não é o que ocorre em Minas, mesmo sendo o segundo estado mais rico do país. Temos um teto abaixo do piso nacional. Isso é mais uma violência contra os educadores de nosso estado, que pelo descrédito com que é tratado pelos governantes acabam por serem desvalorizados pela população, pelas famílias e pelos alunos, que não raras vezes violentam agressivamente os mesmos educadores. Por essas e por outras, nossa luta, em Minas, é por um piso de R$ 1.312,00. Lutamos para que possamos viver com um pouco mais de dignidade. Não estamos pedindo esmola, nem aumento salarial, por enquanto. Estamos exigindo somente o que é nosso por lei. Portanto, senhores representantes do povo, dêm a nós o que é nosso de direito.