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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mega-Sena

Vivemos num país onde uma das únicas chances de alguém conseguir uma vida digna é ganhando na Mega-Sena. E mesmo assim saber administrar as fortunas distribuídas em prêmios pela Loteria Federal não é nada fácil. Histórias de pessoas que ficaram milionárias da noite para o dia e que perderam tudo na mesma velocidade não são raras. A Mega-Sena na verdade é apenas mais uma peça na engrenagem do sistema capitalista. Sua função é alimentar sonhos de pessoas sofridas e sem muita esperança. Se não existisse esse prêmio, esse sorteio, talvez as pessoas pudessem cair na real e perceber que vida digna e de qualidade é um direito de todo cidadão e que só se pode conquistar isso por meio da luta política. Aí esse contingente populacional que vive da esperança de ganhar o tal prêmio milionário poderia, ao invés de ir para as casas lotéricas enfrentar filas gigantescas, ir para as ruas e exigir o cumprimento dos direitos humanos básicos a que todos temos direito. A sorte deveria ser um instrumento secundário na busca por uma vida melhor. Junto com Maquiavel acredito no poder da virtude, inclusive no poder desta mudar a sorte, a roda da fortuna. Se hoje a fortuna está nas mãos de poucos enquanto a maioria padece, isso é culpa nossa que nada fazemos para exigir igualdade real, justiça social e distribuição de renda e qualidade de vida.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

NOSSO MUNDO TÃO INTERESSANTE

O mundo de fato é algo muito interessante. Desperta em nós o desejo de desbravá-lo. Quanta coisa para conhecer na imensidade de nosso planeta. Mas o homem não se contenta em conhecer somente seu próprio mundo, quer ir além, conhecer e conquistar o universo. Cada coisa diferente desperta o interesse de pessoas também diferentes. Uns gostam da natureza, outros de tecnologia, outros ainda de mitologia. O que raramente se encontra é alguém que não goste de nada, que não se sinta atraído por coisa nenhuma. Diante de tanta coisa interessante algo se faz necessário, cuidar, mesmo daquilo que não se gosta ou se sinta atraído, porque sempre existe alguém que gosta. O cuidado é uma forma de preservar as coisas e agradecer a Deus por nos dar a oportunidade de viver e experimentar tudo isso. O cuidado principal deve ser dedicado a nós mesmos. Gente deve cuidar de gente. Infelizmente vemos no mundo, além de falta de cuidado e destruição da natureza, falta de cuidado do humano com o humano. Guerras, violência, destruição do meio ambiente são problemas com os quais a gente se depara constantemente. E temos culpa nisso. A destruição do meio ambiente se dá para criar produtos que nós consumimos. As guerras e a violência ocorrem porque compactuamos com um sistema injusto e violento, que nega direitos básicos ao ser humano. Ser gente nesse mundo tão grande é aprender a cuidar. Nisso a mitologia brasileira dá um banho. Saci-Pererê, Boto, Curupira, Iara, todos ensinam de alguma forma que o cuidado com a natureza é algo de suprema importância. E nós estamos incluídos na natureza. O homem depois que tomou consciência de si começou a achar que era algo separado da natureza, sendo essa um obstáculo a mais a ser superado. A natureza não pode ser obstáculo nem inimiga do homem porque sem ela não há homem. Devemos recuperar a consciência de que somos parte de um todo vivo. Se matamos o que está em nossa volta comprometemos nossa própria existência. A sabedoria indígena deve ser resgatada. O índio tinha consciência de que sem a floresta ele não tinha como viver. Mas o homem moderno e ganancioso ao olhar pra floresta só via lucro, rendas, receitas, oportunidade de fazer riquezas. A avareza e a ganância trazidas pelos europeus não podem continuar sendo modelo de vida para nós. Somos a pátria que deve dar exemplo ao mundo, mostrar que não é destruindo que se constrói, mas é preservando. Somos diferentes num mundo bem variado, os europeus trouxeram avanços, nos ensinaram muitas coisas, nos fizeram progredir, agora é hora de ensiná-los a preservar, a cuidar. Avançar tecnologicamente é importante, melhora a vida humana, só que não podemos avançar à custa de algo que irá fazer falta. O progresso precisa ter limite. Desenvolvimento sustentável é uma palavra muito utilizada pelos meios de comunicação e pelos políticos, mas que deve ser melhor analisada. Por mais que se queira crescer economicamente é importante saber que para crescer nos moldes do sistema capitalista é preciso destruir o meio ambiente. É da natureza que vem os recursos. Talvez seria o caso de rever o conceito de desenvolvimento sustentável, porque nem sempre o desenvolvimento se sustenta, ou sustenta a natureza. Expandir requer desbravar e desbravar requer desmatar. Podemos pagar um preço muito caro por não seguir nossa vocação de povo que cuida e preserva. Cada povo e cada cultura contribui de alguma forma para o verdadeiro progresso humano. A contribuição que devemos dar vem da essência que podemos encontrar na mitologia brasileira. Devemos olhar mais para o que é nosso, o que nós construímos como povo e valorizar mais ao invés de ficar “pagando pau” para o que vem de fora.  

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Só porque eu não me importo não significa que eu não entendo!!!

A IMAGEM DÁ O QUE PENSAR

O UNIVERSO DO TRABALHO E DO CONSUMO


O trabalho é a aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim. Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento. O consumo está no Setor da ciência econômica que se ocupa da aquisição de bens que podem ser bens de consumo e bens de capital e serviços. Por definição, é a utilização, aplicação, uso ou gasto de um bem ou serviço por um indivíduo ou uma empresa. Constitui-se na fase final do processo produtivo, precedido pelas etapas da fabricação, armazenagem, embalagem, distribuição e comercialização. O trabalho é um palavra de origem latina, vem de tripalium (três paus), objeto de tortura utilizado na antiguidade para repreender escravos e servos desobedientes que não quisessem cumprir seus afazeres. O trabalho, então, desde a raiz semântica e etimológica do termo é algo ruim, torturante, que provoca dor e repulsa. Na antiguidade, o trabalho manual e pesado era executado exclusivamente por escravos e servos, cabendo aos senhores somente a atividade intelectual e o ócio. Não exisita trabalho intelectual até porque os termos excluíam um ao outro. Trabalhar era usar a força física, pensar era exercitar o ócio. O consumo, como a própria palavra diz, é algo que consome, não só aquilo que é consumido mas o consumidor e o mundo à sua volta. Na lógica do consumismo tudo é consumível e, portanto, tudo é desgastável e descartável. O homem se realiza pelo trabalho? Na atual etapa da civilização não. Por mais que a ideologia vigente tente inculcar isso na cabeça dos trabalhadores para torná-los dóceis e úteis, a contradição se revela quando se percebe que não há realização no trabalho. O trabalhador não se realiza no trabalho, mas vê o trabalho como uma tortura necessária para viver. E por isso se submete, por sobrevivência. Não há realização no trabalho porque aquilo que é produzido pelo trabalhador não o pertencerá, mas se tornará propriedade de seu patrão. O trabalhador realiza então o proprietário, o patrão, e não a si mesmo. Mas o trabalho pode ser meio de realização humana a partir do momento em que ocorrer a socialização dos meios de produção e os produtos e resultados do trabalho humano se tornarem socializados. Enquanto houver trabalho de uns para a realização e satisfação de outros não haverá justiça nem realização no trabalho. O trabalho é alienado hoje em dia justamente pelo fato do trabalhador não ter consciência de seu papel e seu poder na dinâmica social. O trabalhador é usurpado no produto de seu trabalho se tornando obrigado a vender sua força produtiva, sua vida, seu corpo. Aí está a alienação do trabalhador. Na falta de consciência e mobilização de sua própria situação. O mundo do trabalho ainda apresenta outros problemas além dos já citados. Há sempre a exigência de experiência para o exercício de determinadas funções ou determinados trabalhos ou profissões, o que dificulta o ingresso de jovens e adolescentes no universo do trabalho. Existe a força de vontade por parte dos aspirantes ao emprego, mas falta oportunidade por parte dos empregadores. Esse é o maior problema enfrentado pela juventude na busca pelo primeiro emprego. A atual dinâmica do trabalho vive e se alimenta da sociedade de consumo, de um modo de ver o povo somente como consumidores, como clientes. A sociedade de consumo tem consumido de forma exacerbada e gerado destruição do meio ambiente e produção gigantesca de lixo. Consumir é necessário, porque temos necessidades básicas a serem supridas. Mas consumir como temos consumido é uma atitude irresponsável que compromete nossa própria existência. O consumo alienado produz consequências desastrosas para a humanidade. O mercado das futilidades é o que mais cresce hoje no mundo, ao mesmo tempo em que é o mercado que mais danifica a natureza e o meio ambiente. Por isso necessitamos urgentemente adotar um consumo responsável, consciente, que não se deixe levar e guiar pelos apelos das propagandas e dos meios de comunicação em massa. Um exemplo clássico que podemos citar é o do transporte: é preciso investir mais em transporte público de qualidade e menos em carros de luxo. Quanto mais carros na rua mais poluição e danos à natureza e ao meio ambiente teremos. Outro problema da sociedade de consumo é o lazer alienado. O homem necessita do ócio, do descanso, do lazer. Mas as opções de ócio, de lazer e descanso ofertadas pelo mercado da sociedade de consumo alienam o homem, escravizam, gera exclusão social e exploração. O sujeito se torna um telespectador passivo da história. Não há interatividade real. Somos entertidos enquanto eles nos roubam, nos lesam. Isso é a industria do entreterimento. Este é o lazer alienado. Buscar alternativas para realizar um ócio produtivo, ativo, participativo, para um lazer consciente, menos consumista, um descanso reparador e energizador é tarefa também urgente para nós seres humanos. O universo do trabalho e do consumo precisam urgentemente serem reavaliados para contribuírem de forma efetiva e saudável para a realização plena e digna da humanidade.          

sábado, 31 de julho de 2010

O UNIVERSO DA COMUNICAÇÃO

O universo da comunicação é o campo da transmissão de símbolos criados pelo ser humano. O ser humano é um ser que se comunica. A comunicação é uma característica essencial do homem. Mas nem tudo são rosas no universo da comunicação. Muitas vezes a comunicação não cumpre seu papel, que é gerar entendimento e acaba por provocar desentendimento. Se comunicar é preciso. Como dizia o saudoso Chacrinha, o maior comunicador do rádio e da TV brasileira, "Quem não se comunica, se trumbica!". É praticamente impossível obter êxito em qualquer empreendimento sem saber se comunicar. A comunicação é uma necessidade humana. É por meio da comunicação que o homem transmite sentimentos, conhecimentos, pensamentos. Sem a comunicação ainda estaríamos na Idade da Pedra. A comunicação contribuiu de forma preponderante para a evolução humana. A comunicação se dá por meio de diferentes linguagens, que transmitem o pensamento humano em suas diversas manifestações. Existe a linguagem falada, escrita, simbólica. Todas elas buscam comunicar algo. A linguagem é a mais genuína forma de comunicação do pensamento humano. Mas a comunicação nem sempre é simples e fácil. O diálogo entre jovens e adultos, por exemplo, nem sempre obtém êxito. Os jovens, comumente, possuem em si o desejo de mudança, de instauração do novo e representam muitas vezes perigo para os adultos, por não serem compreendidos. A juventude vive provocando o mundo adulto. É uma forma de chamar a atenção e de demonstrar que aquele mundo não é tão perfeito quanto eles tentam demonstrar. Os adultos já se adaptaram a esse mundo, já se acostumaram, e por isso, na maioria das vezes, não querem mudanças que possam desestruturar suas convicções e seguranças. Vêm nos jovens uma ameaça aos valores por eles já introjetados. Buscam então fazer com que a juventude se adeque ao seu modo de ser e viver. Daí surge o conflito de gerações, que é um problema existente desde a mitologia, como atestam as guerras entre as gerações de deuses da mitologia grega. O diálogo é possível, mas não é fácil. Requer entendimento de ambas as partes. Demanda renúncias de ambos os lados. Dialogo é um meio de comunicação eficaz e preciso. Hoje em dia temos vários meios de comunicação. Mas nem todos trazem benefícios. Pelo contrário, alguns até prejudicam. A televisão é um exemplo. Como diz a música dos Titãs: "a televisão me deixou mudo, surdo e burro". A tv é um importante meio de comunicação e eficiente modo de trasmitir informações. Mas nem tudo na tv é como parece. Ficamos mudos quando não denunciamos o que está errado na sociedade. Ficamos surdos quando nos tornamos incapazes de escutar o gemidos dos que sofrem. Nos tornamos burros porque incapazes de conhecer a verdadeira lógica e os verdadeiros interesses por detrás das informações transmitidas pela mídia. Os detentores do poder são os detentores dos meios de comunicação, das mídias, e consequentemente transmitem aquilo que é de interesse deles. A televisão possui um poder muito grande. Forma opiniões e a consciência da população. Mas nem sempre as opiniões e a consciência formada são adequadas aos interesses do povo. Na maioria das vezes o que é comunicado é de interesse daqueles que estão no poder. A televisão é apenas um dos mecanismos da indústria cultural, indústria essa criada para produzir, vender cultura e gerar lucros para seus proprietários. A cultura passa a ser mais um produto de consumo, um objeto a ser vendido para enriquecer seus idealizadores. A cultura, em vez de ser meio de auto-realização do homem, torna-se brinquedo gerador de riqueza nas mãos do detentores do capital. A cultura produzida pela indústria cultural não liberta o homem, não o realiza, mas o aliena, tornando-o fantoche dos interesses daqueles que detêm o poder econômico. A televisão é apenas um dos meios de comunicação de massa, que trata todos de modo uniforme, criando assim uma população massificada e uniformizada. Padrões de comportamento são reproduzidos e reforçados pela mídia. Assim os indivíduos perdem sua liberdade, sua autonomia, seu poder de decisão e se tornam massa de manobra nas mãos do interesse do sistema. O universo da comunicação deve ser mais um âmbito da realização plena do homem e não mais um modo de escravização e diminuição humana. A comunicação deve libertar o homem, torná-lo cada vez mais livre, gerar cada vez mais justiça, promover cada vez mais inclusão e não o contrário, como percebemos hoje em dia.

POLÍTICA E CIDADANIA

Política é uma palavra de origem grega, que quer dizer: relativo à pólis (cidade-estado da Grécia antiga). É a arte da administração e governo da pólis grega. Cidadania vem do latim civitas, relativo ou pertencente à cidade. É a ação comprometida com o interesses da cidade. Política e cidadania são portanto, duas palavras afins, sinônimas. A primeira é mais abrangente, a segunda mais restrita. Política é a arte de governar em benefício do povo, da cidade. Mas vemos atualmente a política ser usada para fins particulares, defendendo interesses de grupos ou classes e não os interesses do povo. O homem é um animal político, como já dizia Aristóteles. Desde o nascimento nos encontramos inseridos em alguma comunidade, neste caso, na família, célula-base da cidade e da sociedade. Portanto, desde o princípio de nossas vidas estamos envoltos em relações políticas, relações de poder, de governança e conflito de interesses. É impossível não ser político. A política lida com o poder e a força. O Estado é a representação política detentora do poder e da força. O poder e a força, conferidos ao Estado pelo povo, devem atuar em benefício do próprio povo. Mas infelizmente, muitas vezes, o poder e a força são utilizados de forma desproporcional, violenta e contra a população, que via de regra, deveria ser a beneficiada por eles. Vivemos um momento onde a indiferença política se faz bastante presente. Mas como diz um jargão que se tornou popular: "quem não gosta de política é governado por quem gosta". Ou seja, mesmo a indiferença política tem consequências políticas. Mesmo a omissão acaba se tornando uma atitude política, principalmente de conivência com o que está dado, colocado, com os fatos. Vencer a indiferença política é uma tarefa política urgente. O conceito de cidadania sempre esteve fortemente "ligado" à noção de direitos, especialmente os direitos políticos, que permitem ao indivíduo intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração, seja ao votar (direto), seja ao concorrer a cargo público (indireto). A cidadania é a participação política, é a luta pela garantia e efetivação dos direitos conquistados e a busca por novas conquistas, por novos direitos, cada vez mais justos e benéficos para o povo. A cidadania é a ação do cidadão consciente de seus direitos e deveres. Sem o povo não há política. Sem cidadão não há cidadania. A política existe para benefício do povo. A cidadania para o benefício dos próprios cidadãos. O povo precisa conscientizar-se de seu poder, de sua força, para poder fazer do Estado um instrumento de sua própria auto-realização. O cidadão precisa conscientizar-se de seus direitos e deveres, para poder melhor atuar na cidade e contribuir para o desenvolvimento da mesma.

sábado, 24 de abril de 2010

O teatro da vida

Vivemos representando!!! Essa frase é forte, principalmente para uma sociedade que prega o individualismo e a vivência de uma vida autêntica. Mas infelizmente é um fato. Em cada âmbito de nossa experiência mundana adotamos modelos, ou muitas vezes criamos nós mesmos os modelos dentro dos quais nos esforçamos para nos encaixar. E o que percebemos nos final das contas é que não somos aquilo que acreditávamos ser. Por quê? Porque na verdade estamos o tempo todo tentando representar papéis na novela da nossa vida. Representamos o papel de bom pai, boa mãe, bom aluno, bom professor, bom filho, boa filha, bom funcionário, bom patrão. Todas essas representações se dão de acordo com o modelo que adotamos como ideal para cada função. É aí que reside a falsidade de nossa vida. Criamos, cada um de nós, um Eu ideal, que está muito além de nosso eu real. Por inventarmos um Eu ideal, acabamos por nos tornar incapazes de conhecermos nosso eu real. Talvez nem exista nosso eu real, mas é certo também que não somos o Eu ideal que criamos. Fazemos isso porque temos dificuldades de lidar com as dificuldades e imperfeições nossas. Preferimos criar um Eu ideal a lidar com nosso eu real, que é falho, imperfeito. Idealizamos uma vida autêntica, mas nos conformamos com uma vida inautêntica. Gostamos de realidade, mas gozamos com a virtualidade. Seja você mesmo!!! Reza o bordão. Mas vivo querendo ser um outro, que não é o outro, mas aquilo que inventei como ideal para mim. Os modelos que inventamos não passam de coisas, objetos de nosso desejo, mas nunca sujeito de nosso próprio ser. Acreditamos em nossa subjetividade, mas vivemos na objetividade dos objetos desejados e criados por nós. O eu real, o eu em si, ou não existe, ou é impossível conhecê-lo, porque nos acercamos de máscaras que nos impedem de ver-nos como somos diante dos espelhos da existência. Mesmo quando ousamos tirar as máscaras que nos escondem de nós mesmos acabamos por descobrir que por detrás daquela máscara há outra, e outra, e outra e assim sucessivamente e infinitamente. Por ser um animal simbólico, o homem deixou de ser um animal real, e passou a trocar a coisa pelo símbolo, aquilo que é por aquilo que representa. E esse caminho é um caminho sem volta. Não há possibilidade de retornarmos ao real e abandonarmos o simbólico. Mesmo que nos esforcemos, estaremos simbolicamente tentando regressar ao que fomos, mas já não somos mais. Somos e não somos os personagens que adotamos. E é dessa consciência que surge a angústia humana. Angústia sem volta, sem possibilidade de ser superada. Existe uma vontade cega de representar. Independe do nosso querer. É um desejo latente e ardente que inflama nossa alma e nossa mente e nos leva a representar. É um inconsciente muito consciente de sua vontade e de seu querer, mas que não nos consulta para agir e representar. É mais forte que o Eu, seja ele ideal ou real. É cegueira que nos impede de ver os olhos por detrás das máscaras, dos personagens. É cegueira que nos impede de ver a dor, mas não nos impede de senti-la. A dor de não ser quem sou e nem ser quem quero e desejo. A dor de não ver a dor que dói no outro. Dor e sofrimento que representados ou não, reais ou irreais, dói mais em uns que em outros. Dor que leva à fé, que engana sempre. Aquilo que acreditamos não é aquilo que é, mas mesmo assim lutamos até a morte sem saber por quê. Loucura e insanidade humana. Razão desvairada de nosso existir. Eterno retorno do que não queremos saber, nem ver, nem sentir. Água potável, limpa e cristalina que não mata nossa sede. Ar que se respira mas que não enche o pulmão. Terra onde piso, pó ao qual retornarei sem saber se fui o que sou, se sou o que fui. Teatro da vida e vida teatral. Vivemos representando, representando vivemos. Será que somos bons atores na novela de nossa vida?

GREVE!!!

Os educadores da rede estadual de ensino de Minas Gerais estão em greve pela implementação do piso salarial nacional. O piso salarial é o salário mínimo do professor, que foi aprovado como lei federal. O valor do piso hoje é de R$ 1.024,00 reais e o governo de Minas paga somente R$ 935,00. Alguns setores da educação chegam a receber menos que um salário mínimo (R$ 510,00) como é o caso dos auxiliares de serviço gerais, secretaria e professores do ensino fundamental I, que ganham (pasmem!!!) R$ 336,00. O governo argumenta que o piso nacional é para uma jornada de 40 horas e Minas adota uma jornada inferior de 24 horas, por isso o valor é menor que o piso e o salário é proporcional à jornada. Mas a lei federal diz que o piso é o salário mínimo do professor, ou seja, nenhum trabalhador em educação pode receber menos que o mínimo, não importa qual seja a jornada. Além do mais a lei diz que o valor a ser pago (o mínimo, o piso) é para uma jornada de até 40 horas e não especificamente ou obrigatoriamente de 40 horas. No estado de São Paulo um professor recebe R$ 1.600,00 pela mesma jornada de 24 horas, quase o dobro do salário mineiro. Todos sabemos que São Paulo é o estado mais rico do Brasil e por isso, teoricamente, paga o "melhor salário do país". Minas é o segundo estado mais rico do Brasil e o que possui a maior carga tributária, logo, os servidores públicos mineiros deveriam receber a segunda melhor remuneração do país, o que não acontece. Temos o 8o pior salário do Brasil, perdendo em remuneração inclusive para estados mais pobres como Mato Grosso. A implementação do piso salarial nacional da educação se deu para transformar a realidade de educadores de regiões pobres do país, onde professores recebiam menos que o mínimo. O piso foi criado para que nenhum educador recebesse menos que o valor referendado em lei. Mas em Minas o piso se tornou teto e nenhum educador recebe mais do que R$ 935,00. O piso, quando da sua implementação, foi estipulado em R$ 950,00 reais. Hoje está em torno de R$ 1.024,00 segundo o ministério da educação. Mas esse aumento está aquém da inflação do período que decorreu desde sua fixação. Sem contar que está defasado em relação ao mínimo que tem seguidas vezes subido acima da inflação. Estados mais ricos têm também um custo de vida mais alto, o que justifica um mínimo acima do piso, como é o caso de São Paulo. Mas não é o que ocorre em Minas, mesmo sendo o segundo estado mais rico do país. Temos um teto abaixo do piso nacional. Isso é mais uma violência contra os educadores de nosso estado, que pelo descrédito com que é tratado pelos governantes acabam por serem desvalorizados pela população, pelas famílias e pelos alunos, que não raras vezes violentam agressivamente os mesmos educadores. Por essas e por outras, nossa luta, em Minas, é por um piso de R$ 1.312,00. Lutamos para que possamos viver com um pouco mais de dignidade. Não estamos pedindo esmola, nem aumento salarial, por enquanto. Estamos exigindo somente o que é nosso por lei. Portanto, senhores representantes do povo, dêm a nós o que é nosso de direito.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O universo das Artes

O universo das artes está presente em nossas vidas. Artes não são só pintura, escultura. Arte é poesia, música, cinema, teatro, literatura. Arte (do latim Ars, significando técnica e/ou habilidade) geralmente é entendida como a actividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores, dando um significado único e diferente para cada obra de arte.É o mundo da beleza que nos cerca, que desfrutamos cotidianamente. O que é arte? A arte é tudo aquilo que é produzido com a finalidade de representar algo ou despertar em nós algum sentimento. Arte e filosofia caminham juntas. Claro que ambas possuem princípios e finalidades diferentes, mas se entrecruzam, pois tratam-se de disciplinas humanas, produtos da genialidade do homem. A arte busca atingir a beleza, despertar sentimentos e a filosofia busca entender  e conhecer o belo. É nesse momento que elas se encontram e aproveitam-se uma da outra para enriquecerem-se como campos autônomos. Arte e sociedade também se cruzam, uma determinando a outra. A arte cria padrões de beleza, normas estéticas, noções sentimentais, enquanto a sociedade aprova ou desaprova esses padrões. A sociedade também, por ser composta de homens, e homens produtores de arte, é artífice da arte. A arte é imitação da realidade, criação de mundos e universos paralelos para o refúgio humano e construção do mundo tal como é ou como queremos que ele seja. O belo e o feio são convenções humanas e não somente questão de gosto. Claro que o que é belo ou feio para mim pode não ser belo ou feio para você, mas também podemos concordar que existem padrões de beleza ou de feiúra que aceitamos como nossos ou criados por nós, mas que na verdade são invenções midiáticas feitas para nos alienar e acreditar que aqueles padrões são verdadeiros e imutáveis. O papel da imaginação na arte é fundamental. O universo das artes não existiria sem a imaginação humana, capaz de copiar ou reinventar o mundo em que habitamos. A arte e a imaginação podem nos escravizar ou nos libertar. Depende somente da forma como ela é utilizada.

O universo do filosofar

O universo do filosofar constitui-se ainda, infelizmente, como um mistério ou como algo para loucos e nerds segundo o senso comum. Mas este universo faz parte do nosso cotidiano, que muitas vezes deixamos passar sem compreender seus sentidos. Existem muitos conceitos sobre o que seja o filosofar: Pensar, divagar, criticar, viajar na maionese, falar bonito. Filosofar é tudo isso, mas também é muito mais. É um amor pelo saber que busca as razões e desrazões de tudo que nos cerca, de tudo que é humano. Filosofar então se faz necessário, é preciso para podermos compreender melhor o mundo em que vivemos e não ficarmos somente nos lugares comuns do senso comum. Filosofia e verdade são duas necessidades humanas. A filosofia busca a verdade, mas não como as religiões e suas revelações, mas por meio da razão e da subjetividade humana. A verdade segundo os gregos está escondida, por detrás de véu que cobre a realidade. Para encontrá-la é necessário descobri-la. Assim é em nosso cotidiano. Tomamos o véu que cobre a realidade como verdade e não buscamos desvendar o que está por detrás daquilo que vemos. Mentira ou verdade, eis a questão! O que acreditamos é verdadeiro ou mentiroso? Para descobrir é necessário disposição para a pesquisa filosófica, para o pensamento radical, metódico e objetivo. Mentiras sinceras nos interessam e por isso nos acomodamos com as verdades prontas que nos são transmitidas. Vivemos como ingnorantes, na ignorância, e o pior de tudo é que vivemos nessa condição sem termos consciência disso e acreditamos muitas vezes sermos os donos da verdade ou pelo menos conhecedores dela. Mas as verdades que cultuamos ou defendemos, na maioria das vezes não passam de preconceitos transmitidos por gerações e gerações sem serem questionados. O universo do filosofar trabalha na busca da verdade, sem se acreditar dono dela, mas tendo consciência que na busca é que se encontra as fagulhas do verdadeiro escondidas por detrás dos labirintos criados por aqueles que se beneficiam do mundo como ele é.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Nas asas do amor

O amor é um sentimento e uma disposição que se faz presente na vida humana. E justamente por isso é objeto de reflexão por parte da filosofia. Na Grécia antiga existiam três formar de amar. O amor doação (ágape), o amor desejo (eros) e o amor amizade (philia). O homem muitas vezes se deixa levar nas asas do amor e se entrega na paixão. Amor e paixão são dois conceitos muito diferentes. Amor vem do grego ágape, que quer dizer doação, entrega, disposição. Paixão vem do latim patior, que quer dizer sofrer, suportar situação difícil. Amar é se doar, apaixonar-se é querer, desejar. A paixão tem seu significado também expresso na palavra grega eros, que quer dizer desejo, querer, falta. Mas afinal, o que é o amor, esse sentimento ao mesmo tempo tão nobre e tão estranho ao ser humano? Existem várias formas de amor. Amor fraterno, familiar, à pátria, à Deus. Isso prova quão diverso é também tal sentimento, que pode se direcionar para diversos direções da existência humana. Existe também o amor por si mesmo, que quando moderado é saudável, mas quando exagerado gera um complexo chamado narcisismo. Há o amor sem limites, que várias pessoas experimentaram ao longo da história da humanidade, se destacando os grandes personagens religiosos como Buda, Jesus, Maomé... Amaram sem limites aos seus e por isso são até hoje lembrados e louvados não só dentro de suas religiões, mas também pelas pessoas de bem. Existem os amantes do saber, conhecidos também como filósofos, que vivem em busca da sabedoria e do conhecimento. Mas amar o saber não pode ser coisa exclusiva de filósofo, é um convite para todos nós. Segundo Hegel, nessa vida nada se faz sem paixão e a paixão mais nobre é a paixão pelo saber, pelo conhecimento. Somente essa paixão pode nos tornar melhores e mais conscientes de nosso papel no mundo. Flutuar nas asas do amor segundo a filosofia é doar conhecimento, desejar o saber, dialogar com o outro, o diferente, e sofrer junto com aqueles que sofrem buscando sempre construir um mundo melhor para todos.

INVESTIGANDO A LIBERDADE HUMANA

Liberdade, em filosofia, designa de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano. De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários.A liberdade é um tema bastante em voga. Muito se fala dela, mas pouco se analisa sobre seu sentido. Investigar a liberdade é tornar-se livre, conhecendo os próprios limites e possibilidades. O que é a liberdade? É a capacidade e a possibilidade que nós seres humanos temos de escolher, deliberar, optar. Mas toda liberdade requer responsabilidade, pois somos responsáveis por nossas escolhas, logo devemos responder pelos nossos atos. O ato responsável é também um ato livre, pois é uma ação consciente. Liberdade e responsabilidade, portanto, caminham de mãos dadas. Não podemos ser livres sem responder por nossos atos. Mas nossa liberdade é limitada, não podemos tudo, existem limites que fazem com que não sejamos plenamente livres. O livre-arbítrio é comum a todos nós seres humanos, enquanto seres livres, é a possibilidade de julgar, arbitrar, escolher que cada um de nós possuímos. O pensar é uma forma de liberdade, pois aquele que pensa por si mesmo é livre. Existem pessoas que se deixam levar pelas opiniões alheias, enquanto há outras que criam sua própria forma de ver e enxergar o mundo, sendo livres no pensamento ou livres pensadores. A liberdade é uma utopia humana, um sonho, que alimenta revoluções e ideais pelo mundo afora. A liberdade plena não é possível, mas a escravidão plena também não existe. Há sempre escolhas a fazer, mas a escolha certa é aquela que responde por sua opção, lutando sempre para ampliar a liberdade e promover a vida digna e de qualidade para a humanidade.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Ética: Entre o bem e o mal

Ética (do grego ethos, que significa modo de ser, caráter, comportamento) é o ramo da filosofia que busca estudar e indicar o melhor modo de viver no cotidiano e na sociedade. Diferencia-se da moral, pois enquanto esta se fundamenta na obediência a normas, tabus, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos recebidos, a ética, ao contrário, busca fundamentar o bom modo de viver pelo pensamento humano.Ética é a ciência que estuda o comportamento humano, tendo como princípios norteadores o bem e o mal. O que é feito de acordo com o bem é ético, o que não, é anti-ético. A ética estuda também formas de universalizar o que seja o bem e o mal para assim poder estabelecer padrões universais de análise. A ética difere da moral quanto à sua abrangência, a primeira sempre buscando a universalidade, enquanto a segunda trabalha numa perspectiva individual ou comunitária tendo como característica marcante a particularidade. Existem valores éticos e valores morais, que se diferem também pela abrangência, seguindo a mesma tendência de análise e diferenciação entre ética e moral. Valor é tudo aquilo que é valorizado ou de grande importância para determinada cultura. Essa visão sobre os valores privilegia o aspecto moral do valor, que varia de cultura para cultura. A ética busca valores universais que possam ser aplicados em toda e qualquer cultura. O jeitinho brasileiro pode ser um valor entre nós brasileiros, mas para outros povos e culturas o nosso jeitinho é um contra-valor, algo que atenta contra o princípio da igualdade. Nossa valorização da Lei de Gérson (levar vantagem em tudo) é um reflexo, um espelho, de nossa sociedade corrupta e sem escrúpulos que não mede esforços para manter ou conquistar o poder. Os jovens normalmente cultuam valores revolucionários, são questionadores da ordem vigente, mas também na maioria das vezes terminam por finalizar como os pais (vide a música: "Como nossos pais" que retratam bem o que aqui abordamos), ou seja, mantenedores do sistema. Os valores juvenis, portanto, visam a questionar e derrubar o que está aí, posto como eterno imútavel. Mas nem sempre conseguem atingir tal objetivo. O ato moral, muitas vezes pode não ser ético, por possuir um carater grupal ou individual. Os jovens muitas vezes incorrem neste erro. Querer universalizar seus ideais, ideais que representam a visão de um grupo e não a visão geral ou universal. O ato moral é portanto a ação orientada por valores e fins de um determinado grupo ou indivíduos. O desejo é algo criado pelo sistema. Nós seres humanos temos necessidades: beber, comer, dormir, reproduzir. Os meios de comunicação de massa e o mercado criam desejos e tratam tais desejos como se fossem necessidades, que sem as quais a vida não seria possível, mas tais desejos são desnecessários e fúteis além de gerar desigualdade social e destruição do meio-ambiente pelo consumo desenfreado e irresponsável. O ato responsável é aquele que visa a justiça, luta pela liberdade, tenta garantir a universalidade de acesso aos bens básicos para uma vida digna e de qualidade. A consciência moral pode atrapalhar aquele que busca sempre orientar a sua vida por atos responsáveis. Ser responsável é responder por algo ou por alguém. Aquele que se responsabiliza pelas injustiças luta contra elas, busca a igualdade e responde pelos miseráveis de nosso planeta. Mas alguns indivíduos, dotados de consciência moral, aquela consciência que obedece a padrões grupais, comunitários ou particulares de comportamento, tentam de todas as formas velar as contradições do sistema, buscando mantê-lo vigente de qualquer forma e a todo custo, de todas as maneiras, não poupando vidas nem se preocupando com ideais mais abrangentes. O grande bem que nós seres humanos possuímos, o grande valor, é a vida, que deve ser preservada e cuidada, caso contrário seresmo responsáveis pela nossa própria destruição. A ação ética escolhe o bem, que se identifica com a proteção e promoção da vida com qualidade e dignidade no planeta, e busca corrigir o mal, que se identifica com tudo aquilo que gera desigualdade, exclusão, exploração e atenta contra a vida humana em todo e qualquer sentido.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O CONHECIMENTO FILOSÓFICO E A LÓGICA

A lógica (do grego logos, que significa palavra, pensamento, ideia, argumento, relato, razão lógica ou princípio lógico), é uma ciência de índole matemática e fortemente ligada à filosofia. O conhecimento filosófico é importante para nos fazer refletir, pensar, questionar. Mas para realizar essa tarefa é necessário lógica, uma maneira correta de raciocinar e pensar as coisas. Lógica é uma disciplina filosófica que significa a ciência do correto raciocinar. No pensamento muitas vezes o homem voa e até viaja na maionese. Por isso é necessário rigor para pensar de forma correta e coerente. O senso comum forma as nossas opiniões cotidianas, que são feitas a partir de nossas experiências diárias e sem base filosófica ou científica, e por isso, muitas vezes nos levam ao erro, aos enganos. Daí a necessidade do bom senso, a capacidade de julgar e refletir, para não aceitar como verdade algo que não possui sustentabilidade e coerência. A ideologia é a ciência que estuda as idéias. Existem idéias que são transmitidas e incutidas na mente das pessoas pelos meios de comunicação, que são propriedades dos detentores do poder econômico, formando assim um modo de pensar coletivo e mais ou menos uniforme. Essas idéias foram denominadas por Marx como ideologias, ou seja, idéias veiculadas para manter a estrutura vigente e solapar as aspirações por um mundo diferente, pois elas defendem a permanência do mundo tal como é. Por isso é importante o conhecimento discursivo, a capacidade de diálogo e discussão para derrubarmos tais ideologias. Precisamos conhecer para satisfazer a nossa curiosidade e também para mudar o mundo à nossa volta, torná-lo melhor. Os elementos que fundamentam um conhecimento verdadeiro são lançados pela lógica, para que possamos discernir o certo do errado, o verdadeiro do falso. Sem a lógica nossas idéias e argumentos não passariam de palavras ao vento, sem sentido e sem poder algum de mudar e transformar a realidade.

FILOSOFIA: DO CAOS À UNIDADE DAS COISAS

Em praticamente todas as religiões no princípio de tudo havia o caos, a desordem no universo. Daí veio Deus, ou os deuses e ordenaram o mundo e suscitaram nele a vida e tudo o mais que existe. Nos primórdios da filosofia não foi diferente. Os filósofos também acreditavam que no princípio o mundo era um caos que cedeu lugar ao cosmos (mundo ordenado) e que algum elemento foi responsável por essa façanha. Então se passou do caos à unidade das coisas, à ordem universal. Segundo Pitágoras e os pitagóricos, seus seguidores, o número foi o responsável por ordenar o mundo, dar regularidade às coisas. Eles disseram isso ao perceber que a natureza funcionava de forma regular, aritmética, e então defenderam tal tese. O uno e o múltiplo ordenaram todo o universo. Já para Heráclito, o fogo é o princípio de todas as coisas e na natureza tudo está em constante mudança, nada permanece o mesmo, e por isso é impossível entrar duas vezes no mesmo rio, porque na segunda vez nem você nem o rio será mais o mesmo, tudo mudou. O universo é um devir (movimento) constante. Heráclito defendeu essa tese ao perceber que tudo muda, que a natureza é inconstante como o fogo. Tudo passa. Já para Parmênides o que não existe é o movimento. Só o ser existe. O ser é e o não-ser não é. Tudo o que existe sempre existiu, pois o ser é único, eterno e imutável. O que percebemos como movimento não passa de mera ilusão dos nossos sentidos, que nos enganam. Não podemos confiar nos sentidos, pois estes volta e meia nos pregam peças. Acreditamos ouvir coisas que não foram ditas, vemos coisas que não eram tais como as vimos. O que existe é o ser, imutável e eterno, que não muda, permanece sempre o mesmo, pois se mudasse deixaria de ser o que é e conseqüentemente daria lugar ao não-ser, ao nada, que é impensável e logo inexistente. O não-ser não existe e, portanto, sequer pode ser pensado. O não-ser é o nada e o nada não existe nem no pensamento. Segundo Empédocles, o princípio de tudo são os quatro elementos: água, terra, ar e fogo. Da união e separação desses elementos surgem e desaparecem todas as coisas. O amor é o responsável pela união e geração dos elementos, enquanto o ódio é o culpado pela morte e destruição de tudo o que deixa de existir. O amor é então, junto com os quatro elementos, quem mantém o cosmos e a unidade das coisas. Demócrito defende o atomismo. É famoso por criar o conceito de átomo (aquilo que não pode ser dividido). Segundo esse filósofo grego, o princípio de tudo são os átomos, partículas invisíveis, minúsculas e indivisíveis, que estruturam e dão forma a toda realidade. Tudo é composto de átomos, da união e desagregação dos átomos surgem e são destruídas todas as coisas. De certa forma é assim que os filósofos tentam ordenar o mundo conforme seus respectivos pensamentos. Do caos incompreensível eles criam um cosmos capaz de ser compreendido pelo homem.

FILOSOFIA: O PRINCÍPIO DE TUDO

A filosofia, quando do seu nascimento, pensava sobre o princípio de todas as coisas. A pergunta mais feita pelos primeiros filósofos foi: Qual é o princípio de todas as coisas? Os gregos denominavam esse princípio como arché. Na mitologia grega, Cronos, o deus do tempo, era considerado um dos deuses primordiais. Mas os primeiros filósofos recusavam as explicações míticas e desejavam formular uma nova forma de saber, agora racional, crítica e independente da mitologia ou da religião. Os primeiros filósofos foram chamados de cosmólogos, pois pensavam sobre o universo e seu princípio, estudavam a origem da ordenação de todas as coisas. Eram chamados também de naturalistas, uma vez que buscavam na natureza o princípio de todas as coisas. Tales foi o primeiro filósofo segundo a tradição. Para ele o princípio de todas as coisas era a água. Disse isso por perceber que todas as coisas dependiam de alguma forma da água. Já para Anaximandro o princípio era o ápeiron ou o infinito. Segundo ele o princípio não poderia ser algo finito e material como queria Tales, mas algo infinito e ilimitado. Daí veio Anaxímenes e discordou de seus mestres e predecessores defendendo que o princípio era o ar, por acreditar que de alguma forma tudo dependia do ar. Esses foram os três filósofos de Mileto, que buscaram não mais na religião as respostas para o princípio de tudo, mas na própria razão. O princípio de tudo não era mais produto dos deuses, mas obra da natureza passível de conhecimento por parte do homem.

A QUESTÃO DOS HERÓIS

Herói é uma figura arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. Do latim heros, o termo herói designa originalmente o protagonista de uma obra narrativa ou dramática.A questão dos heróis é algo que intriga o homem. Por que criamos heróis? Qual o sentido e a função da figura heróica? Desde tempos remotos o homem elege seres que ele mesmo trata com certa idolatria, vendo neles seres mágicos, dotados de poderes que os homens comuns não possuem. O que é ser um super-herói? Nos desenhos e estórias em quadrinhos os super-heróis geralmente possuem super-poderes, fazem coisas que os humanos comuns são incapazes de fazer. O super-herói é uma projeção do homem, que cria um ser capaz de fazer aquilo que ele não pode, para assim se realizar no ser idolatrado. Os heróis mudam com o passar do tempo. Na Grécia antiga Zeus, Aquiles e Ulisses eram os grandes heróis, que concretizaram os desejos e anseios do povo grego, extremamente ligado ao mito e suas narrações. Na Idade média os heróis eram outros, religiosos, seguidores do ideal cristão, que com seus milagres e sua capacidade de imitar o Cristo tornavam-se exemplos para o restante da cristandade. Na modernidade surge um novo tipo ou ideal de herói, o cientista, ser capaz de perscrutar os segredos da natureza. Mas em todos os tempos e lugares nossos heróis ainda são os mesmos. Não os mesmos personagens, nem as mesmas figuras, mas a mesma representatividade. Elegemos heróis que nos fazem acreditar que aquilo que confiamos e acreditamos é possível, desde que os imitemos ou neles nos espelhemos. Por que os super-heróis usam máscaras? Na antiguidade o uso de máscaras revelava um certo mistério. Aquele que da máscara se apossava ou dela se utilizava tornava-se como um Deus, um ser extraordinário. Isso é possível porque sua identidade se tornava velada, fazendo do usuário da máscara um ser desconhecido, dotado de uma misteriosidade instigante e fascinante. Daí para a atribuições de super poderes era uma questão de tempo. Esconder a identidade faz de nós seres incompreensíveis, inomináveis. Quem não nos reconhece, de nada pode nos acusar. A máscara, ao mesmo tempo que esconde a identidade, fornece poderes àquele que a utiliza. Essa é a função da máscara. No fundo todos temos um pouco de heróis, por conseguirmos diariamente vencer os desafios da existência sem desistir. Mas somos ao mesmo tempo vilões de nossa própria sorte, criando obstáculos para a nossa auto-realização. Nossos heróis dizem muito sobre quem somos. Aqueles que elegemos como nossos heróis e os idolatramos, representam, de certa forma, tudo aquilo que desejamos ser ou somos. O herói além de ser uma figura idolatrada é também sempre uma figura marginal, que precisa se esconder, ou que muitas vezes não consegue lidar com problemas pequenos da existência. Todo herói portanto, possui poderes especiais, mas também defeitos e problemas hilários. O herói não pode transitar livremente, por isso esconde sua identidade. Vive à margem da sociedade assim como a grande maioria da população que é obrigada diariamente a se virar nos 30 para sobreviver. Heróis não são somente as figuras fictícias que criamos, mas todos e cada um de nós. Principalmente aqueles que menos recursos possuem e que mesmo assim conseguem levar uma vida digna e lutar por um mundo melhor. A questão dos heróis revela muito de nós.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O DESTINO TRÁGICO DE TRISTÃO E ISOLDA

Os mitos e lendas antigas quase sempre retratam uma visão trágica que sempre cercou o mais nobre dos sentimentos humanos: o amor. Édipo, Tristão e Isolda, Romeu e Julieta. Será que estamos fadados à tragédia quando o assunto é amor? Ser feliz no amor será um mito, uma utopia? Ser feliz para sempre é coisa somente de contos de fadas? O destino trágico das estórias clássicas de amor revela uma visão pessimista em relação a este sentimento. Foram provavelmente escritos por pessoas que viveram desilusões amorosas. O caráter trágico é cercado por uma visão determinista, que vê no amor uma certeza de fracasso. Para resolvermos o problema levantado por essa questão é necessário começar fazendo uma distinção: amor é diferente de paixão. A paixão geralmente é sofrimento, um sentimento arrebatador, forte, intenso, que consome aquele que dela se enamora. Já o amor é doação, entrega e um sentimento mais tranquilo, pacífico, duradouro. É possível sentir os dois por uma mesma pessoa. Mas com o tempo a paixão irá perder a intensidade, pois esta é fogo e fogo consome, rapidamente se desvanece. O que tende a ficar é o amor, com a sua capacidade de entrega e doação, sua vontade de tornar o outro feliz. A paixão busca a própria satisfação, é como um brinquedo novo, que de tanto brincar enjoa. O amor permanece firme e intalterado, mesmo diante da não correspondência ou traição do ser amado, pois se satisfaz com a felicidade alheia e não com a própria. É importante cultivar ambos os sentimentos, pois ambos proporcionam prazer, sendo a paixão mais carnal, de satisfação mais sensível, enquanto o amor é mais espiritual e de satisfação mais consciente. A tragicidade do amor tanto escrita e narrada nos mitos, lendas e estórias e tão apreciadas por nós revela um lado nada agradável do ser humano, seu lado sado-masoquista. Sem ter consciência disso, provocamos a dor alheia, assim como buscamos o nosso próprio sofrimento. Quando tudo vai bem começamos a procurar chifres em cabeça de cavalos. É aí que começamos a estragar coisas lindas e que poderiam continuar lindas se não fôssemos tão ruins conosco mesmo. Para darmos fim às nossas tragédias amorosas é necessário disposição e consciência. Consciência que problemas existem para ser resolvidos. Disposição para superar obstáculos, porque tudo na vida é feito de obstáculos e barreiras que dependem de nossa disposição ou não para superá-los, para vencê-los, e poder dizer um dia que nossa história de amor não foi uma tragédia e sim, no mínimo, uma comédia romântica.

MITO, TRAGÉDIA E FILOSOFIA

Mito é toda narrativa que fala sobre as origens, o princípio de algo. Encontramos mitos em praticamente todas as religiões. É uma palavra de origem grega que quer dizer narração, conto. Os mitos gregos em sua grande maioria apresentam um caráter trágico, de um fatalismo fiel ao destino, é só recordarmos alguns como o mito de Édipo, Narciso e Sísifo. A tragédia é um conceito e uma concepção bastante presente na Grécia antiga. Os gregos acreditavam que a vida seguia um destino trágico determinado pelos deuses que teciam nossa existência. Nisto consistia a tragédia grega, na impossibilidade humana de determinar ou decidir sobre seu próprio destino, sua própria história. Nasce a filosofia e com ela a tentativa de superação dos mitos e da visão trágica da vida concebida pelos gregos. A filosofia como amor à sabedoria, buscava superar a visão mitológica do mundo que acreditava que tudo quanto existia era originado e determinado pelos deuses. A razão passou a ser o padrão usado para analisar o mundo à nossa volta e não mais a revelação divina. O mito ainda está presente em nossos dias, no mundo atual. Criamos e aceitamos diariamente mitos sem saber que se tratam na verdade de visões falseadas e maqueadas da realidade. O mito tem uma função, criar um interdito e manter a coesão social. Mas nem sempre é benéfico, podendo gerar preconceitos e intolerância. Ainda hoje encontramos visões mitológicas do mundo que muito prejudicam o desenvolvimento pleno do homem enquanto ser humano dotado de racionalidade e capacidade crítica. O mito no mundo de hoje serve para manter a situação vigente, o sistema mundo imperante, as regalias dos grandes e as penúrias dos pequenos. A consciência trágica que cerca o imaginário da humanidade deve ser superada por uma filosofia que busque trabalhar na perspectiva da superação das injustiças e desigualdades sustentadas pelos mitos de hoje. Não existe um destino cego ou ditado por divindades que faz o mundo ser tal qual é e sem probabilidades de mudanças. O homem é senhor de sua história e se o mundo é tal como é, isso se deve ao próprio homem, artífice de sua própria sorte. Se há tanto mal no mundo é porque a humanidade tem optado pelo mal. Cabe-nos escolher um caminho diferente, pois somos livres. Imaginação e fantasia, ambas utilizadas na produção dos mitos que muitas vezes escravizam o homem, devem ser usadas para reconstruir a história humana e fazer do mundo cada vez mais um lugar melhor de se viver, onde as injustiças e desigualdades não tenham voz e o amor e a fraternidade imperem nas relações tanto entre os homens quanto do homem para com a natureza. Em vez do mito a utopia, um lugar que ainda não existe, mas que poderá existir. Só depende de nós.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ESCLARECIMENTO

O nome do blog é professor caná e o link e professorcanah não por causa da cana, que muitos podem associar à bebida alcóolica e a seu consumo. Apesar de gostar muito de tomar as minhas cangibrinas, tudo com moderação, ou não, o blog possui esse nome, mas não com essa conotação. Explicar-me-ei: Quando criança eu adquiri, não sei de que forma nem por qual razão, apesar de já ter lido algo sobre, verrugas por todo o corpo. Uma delas se destacava no meu dedo médio. Era grande e redonda bem no meio superior do dedo, na junta mesmo. Um belo dia, quando brincávamos na rua, coisa comum naquela época e rara em nossos dias, um de meus amigos encontrou uma formiga Tanajura, cuja característica principal era a bunda grande e arredondada, por isso ainda hoje muitas mulheres são apelidadas de mulher tanajura quando possuem um traseiro avantajado, e engraçadinho como era o meu amigo, o mais corneteiro do bairro, associou a semelhança entre a bunda da formiga e a minha verruga, me apelidando assim de Canajura. Canajura porque erámos muito crianças ainda, e como toda criança não sabíamos pronunciar corretamente vários nomes. Inclusive verruga não era verruga pra nós e sim berruga. Daí pegou o apelido como canajura. Como todo apelido, este deveria ser menor e de mais fácil pronúncia. Abreviaram então meu apelido, que de canajura passou a ser caná. Engraçado foi que esse apelido passou a ser profético em minha vida, pois quando cresci fiquei conhecido entre a meninas como Tanajura, por ter um traseiro, segundo elas, avantajado para os padrões masculinos. Logo depois do apelido, ou sua abreviação, também se tornaram profecia em minha vida quando de meu ingresso no seminário. Passaram a associar caná, de canajura (Tanajura), à Caná da Galiléia, cidade onde Jesus teria feito o seu primeiro milagre, o da transformação da água em vinho. O que também demonstra outra coincidência ou profecia, pois este milagre trata justamente de bebida alcoólica, néctar que muito aprecio e que em nosso país é apelidado de cana, por ser aqui famosa a cachaça extraída da cana-de-açúcar, que desde cedo passou a ser cultivada em nosso país não só para a extração do açúcar tão apreciado pelos europeus, mas também pela bebida que dela se produzia. Taí a explicação para o nome do Blog. Este apelido me acompanha desde a mais tenra idade e meus amigos mais próximos sempre me tratam dessa forma. E eu continuo no aguardo para ver os desdobramentos deste apelido que tanto me acompanha em cada passo de minha existência. Obrigado a todos e espero ter esclarecido os curiosos.

Negros

Negros
Adriana Calcanhotto
Composição: Adriana Calcanhotto

O sol desbota as cores
O sol dá cor aos negros
O sol bate nos cheiros
O sol faz se deslocarem as sombras
A chuva cai sobre os telhados
Sobre as telhas
E dá sentido as goteiras
A chuva faz viverem as poças
E os negros recolhem as roupas
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos
Os brancos são só brancos
Os negros são retintos
Os brancos têm culpa e castigo
E os negros têm os santos
Os negros na cozinha
Os brancos na sala
A valsa na camarinha
A salsa na senzala
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos
Os brancos são só brancos
Os negros são azuis
Os brancos ficam vermelhos
E os negros não
Os negros ficam brancos de medo
Os negros são só negros
Os brancos são troianos
Os negros não são gregos
Os negros não são brancos
Os olhos dos negros são negros
Os olhos dos brancos podem ser negros
Os olhos, os zíperes, os pêlos
Os brancos, os negros e o desejo
A música dos brancos é negra
A pele dos negros é negra
Os dentes dos negros são brancos
A música dos brancos
A música dos pretos
A música da fala
A dança das ancas
O andar das mulatas
"O essa dona caminhando"
A música dos brancos é negra
Os dentes dos negros são brancos
A pele dos negros é negra
Lanço o meu olhar sobre o Brasil e não entendo nada

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

PENSANDO SOBRE A PLURALIDADE CULTURAL

É importante refletirmos sobre a pluralidade cultural. A variedade de culturas existentes entre os povos humanos é espantosa. É tão rica e marcante no homem que muitos nos definem como seres culturais, produtores de cultura. Cultura é tudo aquilo que nós produzimos enquanto humanos: costumes, tradições, religiões, utensílios etc... Toda cultura possui suas regras sociais e seus valores. Geralmente as regras são criadas para defender aquilo que é valorizado por determinada cultura. Valor é tudo aquilo que é importante e valorizado para algum povo ou cultura. Em nossa cultura a igualdade é um valor dos mais importantes. Todos somos iguais perante a lei, mas nem sempre essa igualdade é real, nem sempre ela sai do papel. A desigualdade social presente no mundo reflete a ambigüidade humana. Valorizamos a igualdade de direitos e deveres, mas aceitamos uma sociedade dividida em classes, desigual e injusta. As pessoas são diferentes, mas isso não justifica que uns tenham acesso a tudo de bom enquanto outros passam necessidades, não tendo sequer condições para sobreviver dignamente. A convivência social deve se dar num ambiente de respeito às diferenças e que busque garantir pelo menos o básico, senão o melhor, para todos. O ser humano só será plenamente humano quando aprender a conviver com a diversidade e encarar o outro não como um inimigo, concorrente, mas como um parceiro na construção de um mundo melhor e mais digno de se viver. A diferença enriquece, enobrece, e a intolerância empobrece e emburrece o homem. Não existe cultura superior ou inferior, existem culturas diferentes, que juntas enriquecem a experiência de ser humano.

O HOMEM É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS

O homem é um ser que dá sentido ao mundo à sua volta, e por isso, mede todas as coisas segundo sua própria maneira de ver. A frase do título é atribuída a Protágoras, filósofo sofista grego, acusado de ser um relativista por defender essa posição. Mas o que ele queria dizer é que o homem é responsável por aquilo que cria e inventa. Não podemos dizer que aquilo que damos sentido é natural ou promulgado por Deus. O sentido está em quem dá sentido às coisas. O homem é um ser que pensa, deseja e se comunica de forma muito mais sofisticada do que qualquer outro animal ou ser conhecido. Com o advento dos computadores e o progresso científico o homem passou a ser considerado uma máquina que pensa. Os seres vivos são máquinas extremamente sofisticadas que o homem vive tentando imitar em seus ensaios e pesquisas científicas. Mas o cérebro humano supera em tudo os outros seres da natureza, pois consegue ser de uma complexidade ainda maior. O homem é chamado de animal racional por ser o único que consegue se manifestar e expressar de forma tão variada e rica. O pensamento, qualidade por excelência humana, é ainda um grande mistério para a ciência. Somos coisas pensantes, que pensam o seu próprio pensar. Somos medida de todas as coisas porque medimos todas as coisas segundo nossa próprias medidas.

PENSANDO SOBRE O PENSAR

O que é pensar? O que é o pensamento? O pensar e o pensamento são atividades cerebrais humanas que envolvem o aspecto físico e psíquico. O ser humano além de pensar, coisa que o distingue de todos os outros animais, pensa sobre seu próprio pensamento, busca definir a própria definição. Nós não nos contentamos com nossos pensamentos, mas queremos saber até porque pensamos. Somos intrinsecamente insatisfeitos. Nada nem ninguém consegue preencher nossos vazios, nossa incompletude. Daí a dificuldade para nos realizarmos. A filosofia tenta ser um alento para o desespero humano proveniente da falta de sentido encontrada pelo homem ao analisar sua própria existência. A filosofia é um pensar sobre o pensar. Segundo Aristóteles a filosofia é pensamento de pensamento. Vivemos pensando, sobre coisas conhecidas, desconhecidas, sonhamos, mas o mais importante é pensar por si mesmo. Esse é o início da liberdade, ser capaz de pensar livremente, de não ir pela cabeça dos outros, mas formar o próprio conhecimento e a própria opinião. Conhecer a si mesmo é outra coisa que a filosofia nos ensina. Saber seus limites e suas capacidades, além de procurar a sabedoria que habita dentro de nós, como dizia Sócrates. É bom lembrar também que a filosofia é um pensamento aberto, dinâmico, feito por pensadores e que ensina a ser crítico e questionador. Pensar sobre o pensar é libertar-se de preconceitos que diminuem o humano, é ser contra a exclusão, a dominação, exploração e buscar justiça, igualdade e dignidade para todos.