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terça-feira, 26 de julho de 2016

FILOSOFIA MODERNA: Contratualismo: Hobbes, Locke e Rousseau



FILOSOFIA MODERNA: Contratualismo: Hobbes, Locke e Rousseau

MÓDULO 2

#PARA COMEÇAR

QUESTÃO DA CRIAÇÃO DO ESTADO

Como justificar racionalmente a existência das sociedades humanas e a criação do ESTADO? Qual é a natureza do ser humano? Qual é o seu estado natural? Somos todos livres e iguais por natureza? Como explicar então a existência do ESTADO e como legitimar seu poder? Houve em algum momento um pacto ou contrato social que fundou a sociedade civil e o ESTADO?

ESTADO DE NATUREZA

É o estado em que os indivíduos humanos viviam antes de viver em sociedade. É uma hipótese teórica para fundamentar a teoria do PACTO ou CONTRATO SOCIAL e a criação do ESTADO, segundo os CONTRATUALISTAS.

DIREITOS NATURAIS

Os DIREITOS NATURAIS seriam direitos inatos, ou seja, que o indivíduo teria ao nascer. Seus teóricos ficaram conhecidos como JUSNATURALISTAS, pois defendiam que a justiça e os direitos são naturais, dons de DEUS ou propriedades inatas de todo e qualquer sujeito humano. É diferente do JUSPOSITIVISMO, ou DIREITO POSITIVO, que diz que todos os direitos são construções sociais e fruto do consenso social. Para LOCKE os direitos naturais são: a vida, a liberdade e a propriedade.

PACTO OU CONTRATO SOCIAL

Os indivíduos, segundo os contratualistas, antes de viverem em sociedade, viviam num ESTADO NATURAL, mas dele saíram por alguma eventualidade ou circunstância. A partir de então fizeram um PACTO ou CONTRATO SOCIAL, para criar a SOCIEDADE CIVIL e o ESTADO, que seriam os responsáveis por dirimir os conflitos sociais. É, portanto, um acordo hipotético feito em algum momento pelos indivíduos para garantir o mínimo de estabilidade social.

SOCIEDADE CIVIL

É a organização social dos indivíduos, onde lhe são garantidos direitos e também lhe são requeridos deveres a serem cumpridos para uma melhor sociabilidade. Tem a ver com cidadania.

ESTADO

É a instituição responsável pela garantia de cumprimento dos direitos e deveres. Portanto, o instrumento legislador, que faz as leis e busca garantir sua aplicabilidade para um convívio social harmônico. Visa também dirimir os conflitos sociais. Para obter êxito em tal ofício, lhe é garantido, se necessário for, o direito de aplicar a lei por meio da força e da violência.

CONSTITUIÇÃO DO PODER SOBERANO E LIMITES DA SOBERANIA

A questão do PODER SOBERANO e seus LIMITES é a grande controvérsia moderna. A quem cabe exercer o poder em uma sociedade? Ao ESTADO? Ao povo, por meio de representantes? Ou ao povo diretamente?

HOBBES: O ESTADO SOBERANO

Thomas Hobbes (1588-1679) é considerado o primeiro grande CONTRATUALISTA. Os CONTRATUALISTAS defendiam que a SOCIEDADE CIVIL e o ESTADO são frutos de um PACTO ou CONTRATO SOCIAL que ocorreu em algum momento da história humana e que marcou a saída do ESTADO DE NATUREZA (estado que os indivíduos viviam antes de se organizarem em sociedades). HOBBES é um defensor do ABSOLUTISMO (poder absoluto nas mãos do ESTADO), diferente dos teóricos do DIREITO DIVINO DE GOVERNAR, como JACQUES BOSSUET e JEAN BODIN, por tentar fundamentar o direito absoluto em outras bases (laica) que não a religiosa.

GUERRA DE TODOS CONTRA TODOS

Segundo HOBBES, os homens, no ESTADO DE NATUREZA, viviam num ESTADO DE GUERRA de todos contra todos. Tudo isso porque, segundo o autor, “o homem é o lobo do homem”, ou seja, o pior inimigo do ser humano é o próprio ser humano. Somos violentos e maus por natureza. A única forma de acabar com a violência que imperava no ESTADO NATURAL era criar um instrumento artificial (a sociedade civil) que pudesse ser administrada por um ESTADO. Para sair do ESTADO DE GUERRA natural os indivíduos teriam que firmar um CONTRATO SOCIAL entre si, onde transfeririam seu direito natural de fazer justiça com as próprias mãos a um terceiro (ESTADO). Sua obra mais famosa, O LEVIATÃ (monstro bíblico citado no livro de JÓ, na BÍBLIA, símbolo do poder absoluto do ESTADO), é a que busca fundamentar sua concepção política. A função do ESTADO seria então frear o instinto violento do ser humano e garantir o mínimo de paz e segurança. Para efetivar tal propósito, o ESTADO teria em suas mãos o poder absoluto de usar todos os meios disponíveis, desde a violência para coibir a violência, como o direito de tirar a vida, a liberdade e a propriedade de seus súditos. Tudo com o propósito de colocar limites à maldade humana. O PODER SOBERANO então estaria nas mãos do ESTADO e não haveria limites para esta instituição impor a paz e a segurança aos seus súditos. Uma vez instituído o ESTADO ABSOLUTO, aos súditos caberia apenas se submeter, não sendo admitida qualquer forma de questionamento ao governo.

ÉTICA E POLÍTICA

Segundo Hobbes, bem é o que desejamos e mal é o que repelimos, portanto, relativos. O grande valor é o instinto de conservação da vida. Diante de tal relativismo ético e moral do pensador inglês, como poderíamos justificar os limites para a convivência entre as pessoas? A convivência só poderia ocorrer se existisse um PODER ABSOLUTO que pudesse frear o instinto mau e violento dos egoístas seres humanos.

JOHN LOCKE: O ESTADO LIBERAL

LOCKE (1632-1704) se opôs frontalmente ao ABSOLUTISMO hobbesiano e defendeu que o ESTADO deveria ser LIBERAL, ou seja, não interferir nas liberdades dos indivíduos. No ESTADO ABSOLUTISTA, as pessoas não teriam seus direitos naturais (vida, liberdade e propriedade) garantidos, ficando à mercê do PODER ABSOLUTO. Os indivíduos no ESTADO DE NATUREZA viviam isolados, cada um como juiz de suas próprias causas. O ser humano não era exclusivamente mau, como em HOBBES, mas tinha uma bondade que também lhe era intrínseca. Mas em tal ESTADO DE NATUREZA surgiam diversos problemas nas relações entre os indivíduos, por cada um ser seu próprio juiz, e então os DIREITOS NATURAIS de vida, liberdade e propriedade viviam ameaçados. É a partir daí que as pessoas resolveram então fazer um CONTRATO SOCIAL, criar a SOCIEDADE CIVIL e o ESTADO para garantir seus direitos fundamentais. A função do ESTADO seria, portanto, garantir a segurança, a liberdade e a propriedade dos indivíduos. O ESTADO que não garantisse os DIREITOS NATURAIS não teria razão de existir e o povo poderia dissolvê-lo, colocando outro em seu lugar. LOCKE era um defensor do LIBERALISMO (liberdade de expressão, religiosa e de comércio) e do PARLAMENTARISMO (os indivíduos elegeriam seus representantes, que deveriam garantir seus DIREITOS NATURAIS, caso contrário o parlamento poderia ser dissolvido). O PODER SOBERANO, portanto, estaria nãos mãos do povo que poderia exercê-lo através do parlamento eleito e os limites de tal poder seria a garantia dos DIREITOS NATURAIS.

CRÍTICA AO ABSOLUTISMO

Assim como não havia conhecimento inato (LOCKE era contra o inatismo em questão de conhecimento, pois defendia que todo saber vem da experiência sensível, ou seja, dos sentidos – empirismo), não haveria também poder inato (ou de origem divina). O ESTADO deve nascer de um PACTO ou CONTRATO SOCIAL, que visa garantir os DIREITOS NATURAIS (vida, liberdade e propriedade). Foi um grande defensor da tolerância religiosa, das liberdades individuais, da expansão da educação para as diversas esferas sociais e da livre-iniciativa econômica (contra o ABSOLUTISMO e o MERCANTILISMO).

ROUSSEAU: DA VONTADE GERAL SURGE O ESTADO

JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778) defendia que o ser humano é bom por natureza. No ESTADO DE NATUREZA, antes de viver em sociedade, os indivíduos viviam em paz, pureza, liberdade e harmonia. “O homem nasce bom e é a sociedade que o corrompe”. “O homem nasce livre, mas é a sociedade que o escraviza”, segundo ROUSSEAU. A partir do momento que um primeiro indivíduo cercou um pedaço de terra e disse que aquilo era dele, e encontrou indivíduos suficientemente ingênuos que não arrancaram as cercas e disseram que a terra era de todos, dali que surgiu a desigualdade e a corrupção entre os homens. Após perder a bondade natural e se corromper, o ser humano fez um PACTO, um CONTRATO SOCIAL, criou a SOCIEDADE CIVIL e o ESTADO, que acabaram se tornando símbolos da corrupção humana. Voltar ao ESTADO DE NATUREZA é impossível, então necessário se faz criar um novo PACTO, um novo CONTRATO SOCIAL, um novo ESTADO, que possa despertar a bondade natural do ser humano e fazê-lo viver novamente em paz, liberdade e harmonia, uma vez que a pureza natural é irrecuperável. Este novo ESTADO deve estar assentado na VONTADE GERAL (vontade que todos os indivíduos têm em comum e compartilham) para se legitimar e garantir que a corrupção social não volte a reinar. A VONTADE GERAL é a representante do BEM COMUM, e se fixaria através da LEI. A LEIA seria a expressão da VONTADE GERAL. Somente haveria leis justas se as mesmas representassem o BEM-COMUM. A vontade individual deve se submeter à VONTADE GERAL para o novo PACTO, o novo CONTRATO SOCIAL, se efetivar.

O ESTADO NATURAL

O ESTADO DE NATUREZA é uma hipótese plausível e não menos verossímel da existência humana num estado anterior à SOCIEDADE CIVIL. Neste estado os indivíduos viveram a plenitude do AMOR DE SI e da PIEDADE. Tal teoria fundamentou o mito do BOM SELVAGEM, muito presente na literatura da época para se referir às populações indígenas da AMÉRICA. O índio era bom e foi corrompido pela civilização europeia. A PERFECTIBILIDADE do ESTADO DE NATUREZA era a principal tese de ROUSSEAU quanto à vida antes do advento da propriedade privada e da corrupção da natureza humana.

A PRIMEIRA DESIGUALDADE

A PRIMEIRA DESIGUALDADE nasce com a PROPRIEDADE PRIVADA, quando uns passam a ter e outros a não ter. Daí surge a corrupção, onde os indivíduos que não têm, para ter, são corrompidos, e onde os que têm, para ter cada vez mais, corrompem. Essa PRIMEIRA DESILGUALDADE deu origem ao primeiro CONTRATO SOCIAL, fundamentado na corrupção. 

O CONTRATO SOCIAL

Necessário se faz então, segundo ROUSSEAU, a criação de um novo CONTRATO SOCIAL, uma nova SOCIEDADE CIVIL, um novo ESTADO, fundamentado na VONTADE GERAL, que objetiva o BEM COMUM e faz da lei a expressão dos interesses (comum entre todos) que são compartilhados entre os indivíduos de uma determinada sociedade. O PODER SOBERANO estaria nas mãos do povo, que de forma direta deveria exercê-lo. A representatividade parlamentarista é inviável, segundo ROUSSEAU, pois cada indivíduo é representante de si e de seus interesses, não podendo jamais delegar isso a outrem sem o risco de ver sua vontade insatisfeita. Essa concepção é ilustrativa da DEMOCRACIA DIRETA e consensual. A LEI seria fruto do consenso e representante da VONTADE GERAL. Portanto, não era ROUSSEAU partidário da DEMOCRACIA MAJORITÁRIA, onde a maioria decidiria e poderia oprimir a minoria. Somente uma vontade comum a todos poderia vir a ser LEI.

#ANÁLISE E ENTENDIMENTO

Será o homem o lobo do próprio homem? O homem é bom ou mau por natureza? Qual seria a melhor forma de governo, o ABSOLUTISMO, O LIBERALISMO ou a DEMOCRACIA DIRETA e CONSENSUAL?

#CONECTADO

Leviatã (animação inspirada na obra de Thomas Hobbes)

Three Minute Philosophy - John Locke

Thomas Hobbes and John Locke

Pondé sobre Rousseau

Rousseau


EXERCÍCIOS

QUESTÃO 1 (Habilidade: Contextualizar conhecimentos filosóficos, no plano de sua origem histórica e cultural.)                                       
Nível de dificuldade: Fácil.                                                                                                                                     Assunto: Rousseau e o Contrato Social.
O homem selvagem, privado de todas as luzes, não experimenta senão as paixões desta última espécie. Seus desejos não vão além de suas necessidades físicas; os únicos bens que conhece no universo são a nutrição, uma mulher e o repouso; os únicos males que teme são a dor e a fome. Eu digo a dor e não a morte, porque jamais o animal saberá o que é morrer; o conhecimento da morte e de seus temores é uma das primeiras aquisições feitas pelo homem, ao distanciar-se da condição animal.

AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia.  Ensino Médio. v. 2. Belo Horizonte: Educacional, 2013.

O texto acima fala sobre o homem selvagem. Rousseau dissertou sobre o homem neste estado, que os contratualistas chamavam de ESTADO DE NATUREZA. Segundo a teoria rousseauniana o homem neste estado é
A)     Bom por natureza.
B)      Mau por natureza.
C)      Tanto bom quanto mau por natureza.
D)     Corrupto por natureza.
E)      Amante da sabedoria por natureza.
RESPOSTA: A
QUESTÃO 2 (Habilidade: Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo.)                                        
Nível de dificuldade: Médio.                                                                                                                                      Assunto: Rousseau e o Contrato Social.
Para Rousseau, a vida em sociedade implica mudanças que pervertem o comportamento humano para adequá-lo ao novo contexto marcado pela desigualdade, pelo egocentrismo, pelas paixões que tendem a se exacerbar, pela competição que freqüentemente é a semente da violência, enfim, por um virtual estado de guerra generalizada.

AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia.  Ensino Médio. v. 2. Belo Horizonte: Educacional, 2013.

A posição de ROUSSEAU é diametralmente oposta à de HOBBES, como mostra o texto acima. Hobbes era defensor do ABSOLUTISMO e ROUSSEAU
A)     Do liberalismo.
B)      Da democracia direta.
C)      Do parlamentarismo.
D)     Do socialismo.
E)      Do totalitarismo.
RESPOSTA: B
QUESTÃO 3 (Habilidade: Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo.)
Nível de dificuldade: Médio.                                                                                                                                      Assunto: Estado de natureza e sociedade civil.
A passagem do estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de um contrato social, pelo qual os indivíduos renunciam à liberdade natural e à posse natural de bens, riquezas e armas e concordam em transferir a um terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis, tornando-se autoridade política. O contrato social funda a soberania.

AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia.  Ensino Médio. v. 2. Belo Horizonte: Educacional, 2013.

O texto acima faz referência à passagem do ESTADO DE NATUREZA para a SOCIEDADE CIVIL e a fundação do PODER SOBERANO. O autor CONTRATUALISTA que defende que o ESTADO DE NATUREZA é um ESTADO DE GUERRA de todos contra todos é
A)     Jacques Bossuet.
B)      Jean Bodin.
C)      Thomas Hobbes.
D)     John Locke.
E)      Jean-Jacques Rousseau
RESPOSTA: C
QUESTÃO 4 (Habilidade: Ler textos filosóficos de modo significativo e elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo.)                                        
Nível de dificuldade: Difícil.                                                                                                                                      Assunto: John Locke e o individualismo liberal.
Deus, ao ordenar o cultivo, deu autorização para a apropriação. E a condição da vida humana que requer trabalho e materiais com os quais trabalhar, introduz a propriedade particular.

LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. Tradução de Julio Fisher. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

O texto acima faz referência a um dos DIREITOS NATURAIS segundo JOHN LOCKE. Podemos dizer que segundo o liberalista inglês os direitos naturais são
A)     A paz e a segurança.
B)      De votar e ser votado.
C)      Civis, políticos e sociais.
D)     Vida, liberdade e propriedade.
E)      Justiça social e igualdade.
REPOSTA: D
QUESTÃO 29 (Habilidade:Contextualizar conhecimentos filosóficos, no plano de sua origem histórico e cultural.)                                 
Nível de dificuldade: Médio.                                                                                                                                      Assunto: Liberalismo.
                                                                                     O massacre de Quios (1824)                                  A Liberdade guiando o povo (1830)
Por volta do ano de 1830, ocorrem diversas revoluções na Europa. O pano de fundo foi comum: a propagação do liberalismo e nacionalismo como ideologias; o descontentamento do proletariado urbano, devido ao desemprego,salários baixos e à alta do custo de vida; o descontentamento da burguesia excluída do poder político e atingida pela crise econômica. A obra de Delacroix retrata esse momento histórico, expressando de diversas formas, essa correlação entre a arte e a política no período citado, denunciando a situação do povo e sua luta pela liberdade.
AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia.  Ensino Médio. v. 2. Belo Horizonte: Educacional, 2013.
As imagens e o texto acima fazem referência às consequências do LIBERALISMO na Europa. Podemos afirmar que um dos grandes filósofos políticos da modernidade defensor do LIBERALISMO foi
A)     Jacques Bossuet.
B)      Jean Bodin.
C)      Thomas Hobbes.
D)     John Locke.
E)      Jean-Jacques Rousseau
RESPOSTA: D

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