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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Módulo 01 – Filosofia Antiga


#PARA COMEÇAR
#QUESTÕES FILOSÓFICAS

Qual é o fundamento de todas as coisas (a arché)? A realidade essencial é dinâmica ou estável? As coisas são por acaso ou por necessidade?

PENSAMENTO PRÉ-SOCRÁTICO

A filosofia surgiu entre os séculos VII e VI a. C. na Grécia. TALES DE MILETO é considerado o primeiro filósofo. Os primeiros filósofos foram denominados pré-socráticos (que vieram antes de Sócrates, considerado uma espécie de Jesus Cristo da filosofia grega, que é dividida em antes e depois dele). O termo FILOSOFIA significa amor, amizade (philia em grego) à sabedoria (Sophia em grego). Segundo a tradição, o primeiro a usar tal definição foi PITÁGORAS, para diferenciar o filósofo (amigo do saber e que vive em busca do conhecimento) do sábio (aquele que acredita tudo saber e ser o dono da verdade). Há três teorias sobre a origem e o surgimento da filosofia: a primeira diz que o pensamento racional nasce da ruptura entre o mito e o logos, o pensamento alegórico e o pensamento racional. Tal teoria foi descartada pelos estudiosos, pois mesmo em fases avançadas da filosofia, pensamentos mitológicos e racionais continuaram coexistindo e muitas das vezes inclusive se servindo um do outro para explicar suas doutrinas; Outra teoria também aventada foi a do milagre grego, que afirma que a filosofia é uma invenção genuína da genialidade dos povos da GRÉCIA ANTIGA. Tal teoria é também hoje refutada, apesar de se reconhecer o trabalho original dos gregos sobre as heranças culturais de outros povos, transformando de forma substancial o saber comunicado por outras culturas. Mas nada disso seria possível sem o intercâmbio cultural e o privilégio da sociedade grega de contatar tantas civilizações e ainda gozar de tempo livre (ócio) para desenvolver tais conhecimentos rumo a um pensamento mais formal do que prático; A teoria mais aceita hoje na academia (nas universidades e centros de altos estudos filosóficos) é a da continuidade entre mito e logos, do mito noético (nous em grego = inteligência ordenadora) e o surgimento político da filosofia. O mito possui uma racionalidade que lhe é peculiar, assim como o logos detém um caráter mítico, sendo extremamente tênue a linha que os divide. ARISTÓTELES afirmou que a filosofia nasce do ócio (tempo livre), por isso é um saber elitizado, só cultivado por homens livres e impossível para escravos e homens voltados para a vida prática. Sua origem se dá com o espanto, segundo o estagirita, pois é nele que ocorre a perplexidade, que alimenta a curiosidade da alma humana. Esta então se volta para a reflexão e procura entender as causas primeiras e últimas de todas as coisas.
 
PÓLIS E FILOSOFIA

Segundo Jean-Pierre Vernant, a filosofia é filha da PÓLIS (CIDADE-ESTADO). Cada cidade grega era praticamente um ESTADO independente, pois possuía sua própria forma de organização política (aristocracia, democracia, oligarquia, etc...) e nenhuma estava submetida (com algumas exceções) ao arbítrio das outras, possuindo grande autonomia. É na PÓLIS que se dá A PASSAGEM DO MITO (narração alegórica sobre as origens) AO LOGOS (conhecimento racional), ou seja, foi na cidade que o pensamento racional argumentativo começou a dar seus primeiros passos. O SABER MÍTICO (religioso, fundamentado na fé e que apelava para o sobrenatural) começa a ceder espaço para a reflexão lógica do PENSAMENTO RACIONAL. Com o surgimento e o desenvolvimento das cidades gregas, um novo tipo de saber foi se desenvolvendo, se desvencilhando aos poucos da religião e dos mitos. Foi na PÓLIS que o ESPANTO diante do desconhecido começou a gerar uma reflexão racionalizada, segundo ARISTÓTELES. As PÓLIS gregas desenvolveram um espaço que foi fundamental para a ascensão do LOGOS. A ÁGORA (praça pública) era o espaço por excelência da discussão e do questionamento de pautas relacionadas à política, religião, ética e demais assuntos de interesse público.

MITOLOGIA GREGA

MITOLOGIA (mithos = narração sobre as origens + logia = estudo racional) é algo presente praticamente entre todos os povos da antiguidade e seus reflexos se podem perceber ainda nos dias atuais. Mas foram os gregos os pioneiros na arte de questionar o saber transmitido pela religião e os mitos. A MITOLOGIA GREGA era rica em DEUSES, HERÓIS e SEMIDEUSES. O caráter antropomórfico (antropos = homem + morphé = forma) dos deuses e a expansão comercial dos gregos proporcionaram uma visão laicizada da cultura, fazendo com que os mitos fossem aos poucos perdendo seu status religioso dogmático (inquestionável). A dramaturgia, especialmente desenvolvida pelo teatro (invenção grega), fez eclodir uma reflexão desvinculada do caráter fantasioso da religião grega. Autores como SÓFOCLES foram fundamentais para o desenvolvimento de tal forma de pensar. Os mitos geralmente transmitiam TABUS (proibições), que raramente eram questionados no mundo antigo.

A SAGA DE ÉDIPO

Na tragédia ÉDIPO REI, de SÓFOCLES, é narrada A SAGA DE ÉDIPO, herói trágico (os gregos tinham uma visão trágica do universo, vendo nele se manifestar forças antagônicas irracionais, do CAOS primordial) que mata o pai e se casa com a mãe sem o saber. Esta saga exemplifica a visão grega de mundo, junto com elementos e tradições culturais da GRÉCIA ANTIGA, como o ORÁCULO (espécie de adivinhação religiosa em local sagrado). Seres mitológicos se fazem presente na trama, como a ESFINGE (ser metade leão e metade mulher, que lançava enigmas àqueles que compareciam diante dela, devorando os que não conseguissem decifrar tais charadas). A profundidade de tais mitos revela verdades profundas acerca do inconsciente humano e, segundo FREUD, eles podem assessorar o ser humano na descoberta de neuroses e complexos existentes na psique (mente) humana. A psicanálise mesma é quase toda fundamentada no COMPLEXO DE ÉDIPO, conceito criado pelo pensamento freudiano para explicar o desejo inconsciente do sujeito pelo progenitor do sexo oposto e a hostilidade pelo do mesmo sexo. Desenvolve-se tal complexo entre os três e cinco anos de idade e exerce papel fundamental na formação da personalidade e orientação libidinal do ser humano na vida adulta.

PRÉ-SOCRÁTICOS

Os primeiros filósofos gregos foram denominados pré-socráticos, pois vieram antes de SÓCRATES e desenvolveram uma temática diferente da do grande baluarte da filosofia grega. São chamados também de naturalistas, pois sua grande preocupação era a natureza, sua origem, sustentabilidade e finalidade. Outra denominação recebida pelos PRÉ-SOCRÁTICOS é a de cosmólogos (cosmos = mundo ordenado + logia = estudo racional), uma vez que buscaram explicar de forma racional a ordenação do mundo natural.

A BUSCA DA ARCHÉ

O grande objetivo dos primeiros filósofos foi A BUSCA DA ARCHÉ (origem, princípio). Foram responsáveis pela transição da COSMOGONIA (narrativas míticas sobre a origem do universo) para a COSMOLOGIA (explicação racional para o surgimento do mundo ordenado). Buscaram encontrar o PRINCÍPIO SUBSTANCIAL ou a SUBSTÂNCIAL PRIMORDIAL do cosmos.

PENSADORES DE MILETO

MILETO, antiga cidade grega situada na região da Jônia, hoje localizada no litoral ocidental da ÁSIA MENOR (TURQUIA), foi o berço dos primeiros FILÓSOFOS.

TALES: A ÁGUA

Para TALES DE MILETO (623-546 a. C.), a arché era A ÁGUA, princípio universal de todas as coisas, dotada de ALMA e de caráter DIVINO (concepção racionalizada, mas ainda detentora de resquícios religiosos). A MULTIPLICIDADE de coisas existentes poderia ser resumida num único princípio (MONISMO). Ele afirmou tal concepção fundamentado na percepção do caráter primordial da água para a existência do cosmos (elemento abundante e fundamental para os seres vivos).

ANAXIMANDRO: O INDETERMINADO

Uma nova tradição também emerge com o surgimento da filosofia, que é o caráter crítico, questionador e contestador dos filósofos. ANAXIMANDRO (610-547 a. C.), discípulo de TALES, discordou do mestre e defendeu que o verdadeiro princípio e origem de todas as coisas não poderia ser um elemento determinado, finito e delimitado como a água. Afirmou então que o ÁPEIRON (a = partícula de negação na língua grega + peiron = limite) deveria ser o elemento primordial de todas as coisas. O princípio substancial deveria ser algo que não tivesse limitações. Por DIFERENCIAÇÃO ENTRE CONTRÁRIOS e EVAPORAÇÃO seria formado tudo quanto existe no cosmos.

ANAXÍMENES: O AR

Discordou dos mestres que o antecederam. Para ANAXÍMENES (588-524 a. C.) a água era um elemento muito limitado e o apeíron um princípio muito vago. A origem de todas as coisas deveria ser algo perceptível e ao mesmo tempo infinito. Tal elemento seria o AR.

HERÁCLITO: FOGO E DEVIR

HERÁCLITO (535-475 a. C.) escreveu seus pensamentos por meio de AFORISMOS (sentenças curtas e enigmáticas). Nasceu na cidade de ÉFESO, na JÔNIA, refletiu sobre O QUE MUDA, a realidade dinâmica dos cosmos. O SER NÃO É MAIS QUE VIR A SER. É impossível entrar duas vezes no mesmo rio, pois na segunda tentativa, nem o sujeito, nem o rio, serão mais os mesmos. Panta rhei (tudo escorre em grego). Tudo muda e nada permanece o mesmo. Os OPOSTOS se completam e formam a unidade da realidade. Desenvolveu uma concepção AGONÍSTICA (a = não + gonia = origem, portanto, sem origem, mas também traduzível como luta primordial entre os contrários). O universo é uma constante LUTA DE FORÇAS CONTRÁRIAS, antagônicas (ant = contrário + gonia = princípio, origem). O elemento primordial seria o FOGO, símbolo exemplar da mudança e contradição do mundo. Sua teoria foi denominada MOBILISTA e é considerado o primeiro grande representante do PENSAMENTO DIALÉTICO (dia = dois + lético = lógica, ou lógica de opostos). A realidade é mudança constante, eterno fluxo, multiplicidade e unidade dos seres mantida em harmonia pelo logos (fogo racional).

PITÁGORAS: OS NÚMEROS

PITÁGORAS DE SAMOS (570-490 a. C.), grande matemático da antiguidade, foi também filósofo e defendeu a tese de que a origem de todas as coisas seriam os NÚMEROS. Não o número em si, mas o número como princípio FORMAL, que ordena e dá medida a todo o universo. Há um MONISMO (um só princípio), mas também uma visão DUALISTA (dois princípios) na concepção pitagórica, pois o indeterminado determinaria e daria LIMITE à realidade. É considerado o primeiro a utilizar o termo FILOSOFIA (amor, amizade à sabedoria) para diferenciar filósofos (amantes e amigos do saber, mas que não o detém de forma absoluta) dos sábios (donos da verdade inquestionável). Dos números derivam todas as coisas segundo relações harmônico-matemáticas no todo e nas partes, segundo PITÁGORAS. Os reflexos de seu pensamento podem ser percebidos hoje nas ciências da natureza, que buscam traduzir os fenômenos naturais através dos números, quantificando-os, buscando compreender suas regularidades.

PENSADORES DE ELEIA

A ESCOLA ELEÁTICA iniciou-se provavelmente com XENÓFANES, que afirmava que a TERRA era o princípio e a origem de todas as coisas. Era a TERRA que originava, sustentava e consumia tudo quanto havia no universo. Tal concepção encontra diversos respaldos na cultura antiga, principalmente religiosa, que afirmava a origem dos seres vivos a partir do barro e elementos ligados a TERRA. Foi o primeiro filósofo grego a criticar a concepção antropomórfica (antropo = homem + morphé = forma) dos deuses, afirmando que se os animais tivessem condições, também fariam seus deuses à sua imagem e semelhança.

PARMÊNIDES: O SER

É considerado o fundador da ONTOLOGIA (ontos = ser + logia = estudo racional) e da LÓGICA (estudo da forma correta de raciocinar). Principal expoente da ESCOLA ELEÁTICA, PARMÊNIDES DE ELEIA (510-470 a. C.) questionava o saber oriundo dos SENTIDOS. Tais instrumentos não são fontes seguras de conhecimento, pois são enganosos e nos iludem com freqüência. Há três caminhos que podem ser seguidos pelos homens rumo ao conhecimento da verdade: O primeiro é o da verdade pura, caminho da RAZÃO, que proclama O SER, que é, que existe. O SER É E O NÃO SER NÃO É, ou seja, o ser existe e o não ser não existe, pois é nada e o nada não pode sequer ser pensado (a própria palavra nada já é alguma coisa e não pode designar aquilo que ela quer dizer). O SER É ETERNAMENTE (não tem princípio nem fim), IMUTÁVEL (não muda) e IMÓVEL (não se move). O SER É A ARCHÉ DE PARMÊNIDES. É UNO (um só), PLENO (possui tudo em si mesmo), CONTÍNUO (permanece sempre o mesmo) e ABSOLUTO (realidade suprema, fundamental e independente de todas as coisas, aquilo que não se dissolve); A segunda via é a das opiniões erradas dos mortais. O NÃO SER NÃO É, ou seja, não existe, é nada e não pode sequer ser pensando, mas é ignorado pelos ignorantes. A MUDANÇA é uma ilusão, um não ser impossível, pois se houvesse mudança o ser deixaria de ser e se tornaria não ser. É um princípio lógico conhecido como PRINCÍPIO DE IDENTIDADE (o ser é) e DE NÃO CONTRADIÇÃO (o ser é e não pode não ser). As opiniões são sempre contraditórias e não podem jamais expressar o que é o ser; A terceira via é a da opinião plausível, que se move de modo correto entre as aparências. A mudança é aparente, percebida pelos sentidos que são ilusórios, enganadores, fontes não confiáveis de saber. Sem as sensações só restaria a racionalidade, única capaz de compreender o ser e seu caráter imutável. O ser é o princípio e fora do princípio nada existe. A rigor não existe nenhum principiado (acosmismo = sem origem), enquanto o devir testemunhado pelos sentidos não existe. Afirma a imobilidade do ser e a identidade entre o ser e o pensar, em oposição à aparência, que é fruto das opiniões formadas pelos homens a partir dos sentidos, que são enganosos.

ZENÃO

ZENÃO DE ELEIA (488-430 a. C.) buscou demonstrar a impossibilidade do MOVIMENTO. Elaborou alguns argumentos que ficaram conhecidos como PARADOXOS (opiniões problemáticas) DE ZENÃO, como o da corrida de Aquiles contra a tartaruga e o da flecha e do alvo. Desenvolveu demonstrações por absurdo das teses do eleatismo. Aquiles, numa corrida contra uma tartaruga que larga na frente, jamais poderia alcançá-la, assim como uma flecha lançada num alvo jamais atingiria sua meta, pois o espaço pode ser dividido infinitamente, assim como o tempo e não é possível analisar espaço e tempo de forma sincronizada (o que nos leva à ilusão de movimento).  Seus raciocínios foram considerados FALÁCIAS (raciocínios logicamente equivocados e de conclusão errônea), mas ainda hoje tal concepção representa um problema, principalmente para área das ciências contemporâneas, que trabalham com a teoria da relatividade e da física quântica.

MELISSO DE SAMOS

Defendeu a eternidade do ser, sua infinitude e o caráter de uno-todo como essencial. É considerado o sistematizador do ELEATISMO.

EMPÉDOCLES: OS QUATRO ELEMENTOS

Segundo EMPÉDOCLES (490-430 a. C.) os QUATRO ELEMENTOS (FOGO, TERRA, ÁGUA e AR) são os princípios substanciais de todas as coisas. O AMOR (philia=amor/amizade) seria o responsável por unir os elementos e gerar tudo quanto existe. O ÓDIO (neikos, em grego) é o elemento desagregador e destruidor, que faz cessar todos os seres existentes.
PLURALISTAS (há muitos princípios semelhantes ao ser eleático)

ANAXÁGORAS: AS RAÍZES OU HOMEOMERIAS (SEMENTES)

ANAXÁGORAS (500-428 a. C.) defendia que a arché são as HOMEOMERIAS (sementes, raízes) que nascem e morrem a partir da agregação ou desagregação regida por uma inteligência cósmica denominada NOUS, que ordena todo o cosmos. Tal inteligência ordenadora seria responsável pelo movimento racional presente na natureza.

LEUCIPO E DEMÓCRITO: OS ÁTOMOS

DEMÓCRITO (460-370 a. C.), segundo a tradição, teria sido discípulo de LEUCIPO, provável fundador da escola atomista, responsável pela doutrina do ATOMISMO. Os ÁTOMOS (a=partícula de negação na língua grega + tomo = divisão) seriam PARTÍCULAS INVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS. A realidade é composta de ÁTOMOS e VAZIO (por onde se movimentam os átomos). Algumas características dos ÁTOMOS, segundo a escola atomista: HOMOGÊNEOS (iguais entre si e de uma única e mesma origem), INFINITOS (inúmeros em quantidade e qualidade), HETEROGÊNEOS (pode parecer contraditório, mas o heterogêneo aqui se refere ao fato dos átomos não se misturarem e diferirem, mesmo sendo iguais entre si e possuírem uma mesma origem). Daí a perspectiva PLURALISTA (de plural, muitos) da doutrina do ATOMISMO. Há também uma espécie de DUALISMO (dois princípios) quando se fala que tudo é composto de ÁTOMOS e VAZIO. Eles se movimentam ao ACASO, por não haver um propósito ou finalidade programada, mas tal teoria se assemelha ao MECANICISMO (o universo funciona como uma grande máquina previsível, de acordo com as leis de causa e efeito – causalidade) moderno ao postular o caráter NECESSÁRIO do movimento (regido por leis eternas e imutáveis). É da união e separação dos ÁTOMOS que são gerados todos os DISTINTOS CORPOS existentes. Todo ÁTOMO possui: FIGURA (forma geométrica), ORDEM (organização) e POSIÇÃO (localização espacial). Segundo DEMÓCRITO: “TUDO O QUE EXISTE NO UNIVERSO NASCE DO ACASO OU DA NECESSIDADE” (contradição apenas aparente).

FÍSICOS ECLÉTICOS (O PRINCÍPIO É ÚNICO E DEDUZIDO DA NATUREZA)

DIÓGENES DE APOLÔNIA E ARQUELAU DE ATENAS: O AR INFINITO E INTELIGENTE
A teoria naturalista dos filósofos acima é uma espécie de síntese das filosofias anteriores, por isso a atribuição de ECLÉTICOS aos mesmos. Se valem do AR INFINITO de ANAXÍMENES e da noção de INTELIGÊNCIA ordenadora de ANAXÁGORAS. Tal princípio é ao mesmo tempo ARCHÉ (origem) e causa final de todas as coisas.

PERÍODO COSMOLÓGICO DA FILOSOFIA GREGA

Como se pode perceber acima, a FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA sempre esteve, desde seus primórdios, encharcada de MITO, do pensamento alegórico, mesmo representando uma transição para um modo de pensar mais racional e argumentativo e menos fideísta, mitológico, religioso e fantasioso. A FILOSOFIA, desde seus primórdios, caminhou de mãos dadas com a CIDADANIA, conceito e noção grega, que foi se aprimorando e desenvolvendo com o tempo. As obras ILÍADA (obra que narra a guerra de TROIA – Ílion, para os gregos) e ODISSEIA (as aventures de ODISSEU – ULISSES para romanos e nós hoje – após o término da guerra de TROIA e sua tentativa de regressar para casa) de HOMERO e TEOGONIA (obra que narra o nascimento dos deuses gregos) e OS TRABALHOS E OS DIAS (obra que narra o cotidiano grego permeado pela interferência dos deuses) de HESÍODO, foram fundamentais para a dessacralização do pensamento e o posterior desenvolvimento da filosofia. Os PRÉ-SOCRÁTICOS podem ser considerados os inauguradores da CIÊNCIA, pois foi a partir do questionamento das respostas mitológicas e a tentativa de dar respostas mais racionais e plausíveis com fundamentação natural, que a mesma iniciou sua marcha na história humana. TODA CIÊNCIA SE INICIA COM PROBLEMAS, ou seja, no momento em que formas de responder aos fenômenos que nos cercam já não mais satisfazem ao anseio humano por soluções cada vez mais abrangentes e completas sobre o universo à nossa volta.

#ANÁLISE E ENTENDIMENTO

O que é logos? E mito? Por que se pode dizer que o surgimento da filosofia foi engendrado em praça pública? Qual era a preocupação central dos filósofos de MILETO e o que cada um encontrou em sua busca? Que aspecto mais formal na explicação da realidade o pensamento de PITÁGORAS introduziu, pela primeira vez na história da filosofia ocidental? Qual é a concepção de realidade contida nesta frase de Heráclito: A luta é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas? Quais eram as divergências fundamentais entre PARMÊNIDES e HERÁCLITO sobre a realidade do ser? Qual o objetivo de ZENÃO de ELEIA ao criar o célebre argumento da corrida de AQUILES com uma tartaruga? Como EMPÉDOCLES tentou conciliar as concepções de PARMÊNIDES e HERÁCLITO? De que maneira o pensamento de DEMÓCRITO também formula uma solução que concilia a imobilidade do ser com o movimento do mundo?

#CONVERSA FILOSÓFICA

Quais são os mitos do mundo atual? Que elementos míticos você pode identificar no pensamento dos filósofos pré-socráticos? Seria possível cada cidadão, como um filósofo, voltar a expressar e discutir suas opiniões em espaço público? O que precisaria mudar?

#CONEXÕES

Qual é a quantidade de água que há no planeta e no corpo humano? É possível estabelecer um paralelo com a cosmologia de TALES DE MILETO? Seria possível estabelecer alguma relação entre o pensamento de PITÁGORAS e a ciência moderna? Por quê? Observando a vida, você consegue perceber que nossa experiência cotidiana, o que vemos, ouvimos, sentimos, seja um fluxo permanente de impressões que nunca são totalmente iguais? Por quê?

#PARA PENSAR

Que relação há entre o início da filosofia e o início da ciência? Como se deu a evolução da filosofia grega em seus primórdios? Quais são as razões para levarmos a sério a proposição de TALES de que a água é a origem e a matriz de todas as coisas? O ser é sempre dinâmico? Por quê? Heráclito retira o universo da tranqüilidade e da estabilidade? Por quê? A ciência sente-se apertada dentro do conceito parmenídico da realidade? Por quê? Como a física tem compreendido a realidade física através do tempo? A ciência do ser humano não se encaixa de maneira nenhuma no conceito parmenídico da realidade? Por quê? O que significa assumir uma concepção não estática da vida? Você acha que existe algo de permanente e eterno, que nunca muda nem deve mudar?

#CONECTADO

Os Pré-Socráticos

Os Pré-Socráticos

Filosofia: Os Filósofos Pré Socráticos - Parte 1


#EXERCÍCIOS

QUESTÃO 1 (Habilidade: Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos nas artes.)

Nível de dificuldade: Médio.                                                                                                                                                     Assunto: Considerações sobre arte e filosofia.
Traduzir-se (Ferreira Gullar)                                                                                                       
Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim é multidão:
outra parte estranheza e solidão.
(...)
Traduzir-se uma parte na outra parte
- que é uma questão de vida ou morte -
será arte?
GULLAR, Ferreira. In: Toda Poesia. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1991.
Do ponto de vista filosófico, podemos afirmar que o poema de Ferreira Gullar expressa a arte como uma síntese humana que se compõe na

(A) contradição.                                                                                                                                                                            
(B) diversidade.                                                                                                                                                     
(C) dualidade.                                                                                                                                                       
(D) integração.                                                                                                                                                               
(E) negação.                                                                                                                                                                                                                                                                                                         
GABARITO: C
Comentário: Dualismo é uma concepção filosófica ou teológica do mundo baseada na presença de dois princípios ou duas substâncias ou duas realidades opostas e inconciliáveis, irredutíveis entre si e incapazes de uma síntese final ou de recíproca subordinação. Para Gullar, só através da arte pode ser possível traduzir uma parte na outra, compondo essa síntese.

QUESTÃO 2 (Habilidade: inferir o que foi apropriado de modo reflexivo.)                                                                      

Nível de dificuldade: Fácil.
Assunto: Filósofos da natureza.
Os primeiros filósofos gregos tentaram entender o mundo através do uso da razão, sem recorrer à autoridade ou à tradição. Refletiram sobre a natureza do mundo procurando explicá-lo e seu pensamento foi considerado o ponto de partida para o entendimento racional do mundo, constituindo a base para o nascimento da filosofia.

AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia. v. 1. Ensino Médio. Belo Horizonte: Educacional, 2013.

O texto se refere aos pensadores

(A) Helenistas.
(B) Platônicos.
(C) Pré-socráticos.
(D) Socráticos.
(E) Sofistas.

GABARITO: C
Comentário: Os pré-socráticos são pensadores naturalistas, que inauguram o pensamento filosófico ocidental, tomando como referência a compreensão do cosmo através da observação e da análise da natureza, em oposição à religião e à autoridade, base do conhecimento no período.

QUESTÃO 3 (Habilidade: ler textos filosóficos de modo significativo e inferir o que foi apropriado de modo reflexivo.)

Nível de dificuldade: Difícil. Assunto: Mito e razão.
Toda crise existencial põe de novo em questão, a realidade do Mundo e a presença do homem no Mundo: em suma, a crise existencial é “religiosa”. (...) Portanto, a religião é a solução exemplar de toda crise existencial, não apenas porque é indefinidamente repetível, mas também porque é considerada de origem transcendental e, portanto, valorizada como revelação recebida de um outro mundo, trans-humano. A solução religiosa não somente resolve a crise, mas, ao mesmo tempo, torna a existência “aberta” a valores que não são contingentes nem particulares, permitindo assim ao homem ultrapassar as situações pessoais e, no fim das contas, alcançar o mundo do espírito.

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 171 p.

O texto de Eliade valoriza o mito e a religião como saída da crise existencial por considerá-los

(A) construções ideológicas com finalidade econômica.
(B) criações arbitrárias com fins políticos de manobra.
(C) narrativas da vivência do humano em busca de sentido.
(D) recursos para conhecermos os limites humanos.
(E) reflexos de sujeitos e situações históricas existenciais.

GABARITO: C
Comentário: A religião e o mito, através de suas narrativas e de seus rituais, contribuem para a solução de crises existenciais, ao oferecer ao homem a segurança e o sentimento de estar ancorado em algo superior a ele, que o sustenta. Na raiz de cada religião está a experiência do mistério, promovendo uma religação com o transcendente, levando ao homem segurança e confiança diante das dificuldades existenciais.

QUESTÃO 4  (Habilidade: Articular conhecimentos filosóficos e diferentes formas de linguagem.)

Nível de dificuldade: Fácil.                                                                                                                                        Assunto: Mito e razão.

Numa luta de gregos e troianos,
Por Helena, a mulher de Menelau,
Conta a história de um cavalo de pau,
Terminava uma guerra de dez anos.
Menelau, o maior dos espartanos
Venceu Páris, o grande sedutor,
Humilhando a família de Heitor
Em defesa da honra caprichosa.
Mulher nova, bonita e carinhosa
Faz o homem gemer sem sentir dor.
RAMALHO, Zé; BATISTA, Otacílio. Mulher nova, bonita e carinhosa.

O trecho da música cantada por Amelinha retrata cenas da guerra de Troia, contadas no poema

(A) A Divina Comédia, de Dante.
(B) Ilíada, de Homero.
(C) O Trabalho e os Dias, de Hesíodo.
(D) Odisseia, de Hesíodo.
(E) Odisseia, de Homero.

GABARITO: B
Comentário: O trecho da música retrata cenas da Guerra de Troia, escrita por Homero no poema Ilíada.

QUESTÃO 5  (Habilidade: Inferir o que foi apropriado de modo reflexivo.)                                                                                                                                                       
Nível de dificuldade: Médio.                                                                                                                                         Assunto: Considerações sobre a pólis grega.
A civilização ocidental tem suas raízes políticas na pólis grega. A concepção do cidadão como parte da pólis coloca o homem na condição de pertença. É essa qualidade de pertencimento que esclarece a natureza do regime e busca a harmonia na cidade.

AMORIM, Maria de Fátima. Filosofia. Ensino Médio. v. 1. Belo Horizonte: Educacional, 2013.

A relação do indivíduo, enquanto parte, com a pólis, enquanto todo,vai traduzir-se

(A) pela oratória persuasiva.
(B) pelas convenções estabelecidas.
(C) pelo caráter divino das leis.
(D) pelo uso da força física.
(E) pelos ideais de justiça.

GABARITO: E
Comentário: A justiça é o valor que fundamenta as relações entre os homens na pólis, produzindo a harmonia necessária ao convívio.

QUESTÃO 6 (Habilidade:  Ler textos filosóficos de modo significativo e inferir o que foi apropriado de modo reflexivo.)                                                                                                                                                            
Nível de dificuldade: Médio.                                                                                                                                                        Assunto: Considerações sobre a pólis grega.
A história política de Atenas, entre o séc. VIII e IV, caracteriza-se por um crescente processo de alargamento das prerrogativas políticas entre o grupo dos homens livres, resultando no regime democrático ateniense, denominado pelos mesmos não como democracia, mas como isonomía – a garantia da igualdade perante a lei.
CASTORIADIS, Corneliu. A pólis grega e a criação da democracia. In: Filosofia Política 3. Porto Alegre: L&PM, Unicamp/UFRGS, 1986.

A peculiaridade desse regime político é instaurar

(A) a ampliação das fronteiras entre governante e governado, deixando claro o papel político e as funções de cada um.
(B) a concentração de poder independente da vontade pública, fazendo com que ele fosse exercido em nome do interesse de particulares.
(C) a justiça da maioria dos cidadãos, em especial das classes menos favorecidas – escravos, estrangeiros e mulheres.
(D) o exercício da justiça por delegação divina, através de leis estabelecidas pela tradição e transmitidas oralmente.
(E) um complexo sistema de circulação, rotatividade e controle do poder, assegurando maiores níveis de participação.

GABARITO: E
Comentário: A base da democracia é a igualdade de todos os cidadãos. Igualdade perante a lei (isonomia), e igualdade de poder se pronunciar na assembleia (isagoria), quer dizer, direito à palavra. Assegurar maiores níveis de participação, evita a concentração de poder, submetendo-o à vontade pública e fazendo com que ele seja exercido não em nome do interesse de particulares, mas em prol da maioria dos cidadãos.

QUESTÃO 7  (Habilidade: Ler textos filosóficos de modo significativo e inferir por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo.)                                                                                                                                                            
Nível de dificuldade: Difícil.                                                                                                                                                        Assunto: Paideia grega.
Na pólis do séc. IV a.C. o conceito de Paideia supera a vinculação limitada à instrução da criança. Trata-se de uma reflexão sobre a formação do homem para a vida racional na pólis. Aplica-se à vida adulta, à formação e a cultura, à sociedade e ao universo espiritual da condição humana. A construção histórica deste mundo da cultura atinge o seu apogeu no momento em que se chega à idéia consciente de educação.                                                                                                                                                                
JAEGER, Werner. Paidéia. São Paulo: Martins Fontes, 1986, p. 244-246.
Os gregos da época clássica formulam uma concepção ética derivada da vida coletiva (pólis) e, com Sócrates, inserem a transferência da imagem da cidade para a "alma" do homem. Transfere-se uma "Paideia" centrada no Estado para uma Paideia
(A) discursiva, baseada no manejo das palavras, argumento, convencimento.                                                    
(B) exterior, baseada nas experiências individuais e generalizadas.                                                                       
(C) interior, ética, derivada da consciência da natureza moral do homem.                                                                                 
(D) técnica, mais dirigida à produção do que à ação, à prática.                                                                
(E) teórica, constituindo um tipo superior de atividade humana.

GABARITO: C

Comentário: Com Sócrates, entra em questão o problema da alma, da consciência, influenciando os objetivos da educação que também se volta para as questões éticas, do interior do homem.

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